• algoritmo cósmico

    07 ago - 04 set

  • Nos últimos anos, na esteira da proliferação de redes sociais e plataformas online, o termo algoritmo foi se incorporando ao vocabulário não-especializado e vem sendo utilizado por muitos de nós para descrever as misteriosas coincidências que caracterizam nossas existências online. Essas mudanças na paisagem midiática frequentemente reduzem nosso entendimento dos algoritmos aos opacos e controversos parâmetros que organizam a composição de nossos feeds em redes sociais. Embora seja fundamental discutir e agir politicamente em resposta à extração, processamento e monetização de nossos dados por grandes corporações, acreditamos que também seja importante nos reapropriarmos do algoritmo, liberando-o do monopólio semântico tecnocapitalista e restabelendo suas conexões com os processos de criação e conhecimento.

     

    O algoritmo costuma ser definido como uma sequência de regras, raciocínios e operações que, aplicada a um conjunto delimitado de dados, leva à resolução de certos problemas. As obras aqui reunidas, produzidas em diversas mídias, por artistas de diferentes gerações e proveniências, relacionam-se com esta noção em diversos níveis, algumas reiterando a razão algorítmica, outras apontando para seus limites. De obras abstratas, resultantes de procedimentos lógico-sequenciais, a obras que se debruçam sobre os padrões dos gestos humanos, dos movimentos de corpos celestes ou das formas da natureza, passando pelo questionamento da noção de destino e de sua potencial legibilidade por saberes oraculares; Algoritmo cósmico propõe uma investigação acerca de tensões que se inscrevem na cultura e em seu projeto, por vezes desastrado, de conhecimento, controle e previsão dos mais variados fenômenos.

  • "Se Contar Ninguém Acredita", de André Azevedo (2021) integra um conjunto de obras do artista que são datilografas sobre tecido de algodão, resultando em um arranjo formal que remete tanto aos cartões perfurados dos primórdios da informática quando ao pioneirismo da indústria têxtil na automação da criação de estampas e padrões. 

     

    O texto que compõe a obra e lhe intitula expõe a ambiguidade do verbo contar, que em português significa tanto relatar quanto quantificar e a irregularidade do padrão que resulta da composição tensiona o aparente automatismo de sua produção.

     

    Essas tensões entre o caráter procedimental do algoritmo e as irregularidades e assimetrias que caracterizam o mundo material também comparecem na série Double Retro, de Ekaterina Shapiro-Obermair e em "Autómatos 1", de Alexandre Vogler. A artista dialoga com o construtivismo, que marcou a história da arte soviética, mas tensiona o rigor compositivo geométrico, deixando-se seduzir, no processo de produção, pela materialidade com que trabalha. Deste gesto resultam imagens que, sob um aparente rigor matemático, escondem inúmeras assimetrias e emblematizam tensões históricas e políticas entre o idealismo comunista e a sedução plástica do capitalismo de consumo.  

  •  A obra de Vogler, composta por etiquetas de preço marcadas por duas linhas contínuas, também investe sobre os desajustes entre a idealização de um procedimento algorítmico de controle e a realidade, repleta de desvios impostos pela materialidade do mundo. Alinhar as etiquetas, produzidas industrialmente, sobre a superfície da tela descortina o alcance das reverberações de micro desvios que, acumulados, resultam em uma composição na qual linhas idealmente paralelas, se cruzam na realidade.

     

  • Os trabalhos de Carla Chaim, Fernando Velázquez e Daniel Feingold exploram linguagens abstratas desde diferentes perspectivas e coincidem, do ponto de vista formal, pela preponderância de listras e grids que resultam de pesquisas muito diversas. A poética de Chaim dialoga com estratégias procedimentais que remetem à arte conceitual, mas desarticula sutilmente esta tradição ao recontextualizar seus procedimentos diante da vida, do corpo e da matéria. Na obra em questão, a artista utiliza o papel milimetrado e segue as linhas prescritas pelo papel, mas extrapola suas margens e cria um tríptico cujo display evidencia uma recusa ou impossibilidade de adesão integral a tais regras. O trabalho de Fernando Velàzquez integra sua conhecida série chamada Mindscapes, que também conta com vídeos, instalações e performances. Nesta série, o artista investiga a noção de paisagem mental lançando mão de algoritmos que sintetizam imagens abstratas, a partir de padrões do funcionamento cerebral. Já o grid de Daniel Feingold resulta de uma estratégia de busca pela unidade pictórica que foi descrita por Luiz Camilo Osório como acaso controlado. Nos trabalhos da série Estrutura, o artista aplica esmalte sintético sobre terbrim sem pincel, negociando com variáveis como o escoamento da tinta e a absorção da tela. A geometria resultante deste procedimento inscreve o grid de Feingold como resultado de um encontro com a matéria e não como um a priori formal.

  • Carla Chaim
    Sem título VII, 2018
    grafite sobre papel gradeado
    62 x 98 x 4,5 cm
    (2 de 37,5 x 30 x4 cm e 1 de 64 x 41,5 x 4 cm) com moldura

  • Os trabalhos da série Fotografia Esvaziada, de Roberta Dabdab e a pintura #2 – série Ledo Engano (ou coisa parecida),...

    Felipe Cama
    #2 - série Ledo Engano (ou coisa parecida), 2020

    Acrílica sobre tela

    160 x 100 cm

    Os trabalhos da série Fotografia Esvaziada, de Roberta Dabdab e a pintura #2 – série Ledo Engano (ou coisa parecida), de Felipe Cama abordam um tema fascinante e controversos, tanto no campo da arte quanto nos da física e da psicologia da percepção: as cores. A série de Dabdab, de 2008, é fruto de uma investigação acerca dos fundamentos da imagem digital. A artista manipulou a resolução de uma série de fotografias feitas no Musée de l’Orangerie, onde estão expostas as icônicas Nymphéas, de Claude Monet, reduzindo-a até obter composições abstratas nas quais vemos uma série de quadrados coloridos, os pixels. Dabdab problematiza a noção da alta definição da imagem digital ao mimetizar o gesto impressionista com os aparatos de nosso tempo. A pintura de Felipe Cama também tensiona a pretensão das imagens digitais à precisão algorítmica. O artista lança mão da pintura para reproduzir a ferramenta safe colors de um famoso software de edição de imagens. Esta ferramenta objetiva reduzir as variações cromáticas entre diferentes monitores e impressoras, oferecendo uma paleta segura. O artista, ao reproduzir pictoricamente esta interface, ressalta o caráter transitório e contingente das cores, na medida em que introduz seus olhos, suas mãos e a luz do ateliê como mediadores do fenômeno cromático.

     

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  • Outro domínio que vem sendo amplamente investido pelos algorítmicos é o da gestualidade humana. Durante a modernidade industrial o corpo foi inserido no centro de um projeto de conhecimento comprometido com a compreensão das engrenagens e geometrias do movimento corporal com o claro objetivo de otimizar as linhas de montagem. Alguns métodos de registro e estudo do movimento são hoje apropriados e subvertidos por artistas, como podemos ver nos trabalhos de Juliana Cerqueira Leite e Maria Noujaim.

     

    Horizontal, de 2013, desdobra no domínio da pintura um pressuposto da prática escultórica de Cerqueira Leite, o de que a obra é a cristalização residual de uma ação e, neste sentido, saturada de performatividade. A imagem apresenta uma série de formas corporais impressas sobre a tela, o que poderia remeter à antropometria azul de Klein, mas o dinamismo da imagem e o diagrama que recompõe (ficcionalmente?) o movimento do corpo no espaço da tela talvez tenham mais a ver com as imagens resultantes dos estudos de Gilles de La Tourette sobre a caminhada, publicados em 1886. O trabalho da série Seriação, de Maria Noujaim também se inscreve na interface entre o corpo e a linguagem, consistindo na marcação, em nanquim sobre papel, de uma notação rítmico-performativa.

  • Julien Prévieux

    Patterns of Life, 2015

    Vídeo 2k, cor, som

    15’30”

     

  • Carla Chaim e Julien Prévieux também abordam em seus trabalhos a visualização e quantificação dos padrões corporais, de gestualidade e movimento. Lançando mão de fotografia, Chaim documenta a relação de seu corpo com o espaço arquitetônico, posicionando-se no canto de uma sala e traçando um triângulo cujos lados e ângulos calculáveis eventualmente coincidem com o próprio corpo da artista. Já o vídeo de Prévieux, Patterns of Life, propõe uma genealogia estética, técnica e política da visualização, do registro e quantificação dos movimentos e deslocamentos corporais.  

     

    Em Apelos de horizontes, Noara Quintana introduz seu corpo na paisagem. A obra é a documentação fotográfica de uma performance na qual o caminhar da artista desenha, sobre um solo arenoso, uma geometria que acena para as quatro direções do horizonte. A geometria que se inscreve sobre a paisagem espelha nossa relação com o espaço, frequentemente baseada em coordenadas cartesianas.

     

  • Noara Quintana

    Apelos de horizontes, 2014

    Performance Impressão fotográfica sobre madeira

    12 x (23cm x 15cm)

  • A pressuposição de regularidades e padrões subjacentes a determinados fenômenos orientou grande parte da ciência moderna em seu projeto de decodificação do mundo. O desenvolvimento de métodos e instrumentos de extração destes padrões não é, entretanto, monopólio das instituições científicas. Os trabalhos de Cadu, Letícia Ramos, Haythem Zakaria e Gyula Sagi testemunham a potência poética da invenção de dispositivos para inscrição não figurativa dos mais variados fenômenos. 

  • A obra de Cadu faz parte da série Wind Line que consiste em um sistema capaz de produzir desenhos a partir do processamento de dados extraídos da dinâmica do vento nos ambientes onde o sistema é inserido. Esta representação não-mimética da paisagem é apenas parcialmente determinada pelo artista no processo de codificação do sistema que irá traduzir graficamente o comportamento do vento, que tem uma agência fundamental na produção dos desenhos.

     

    A produção Letícia Ramos, fortemente ancorada na criação de aparatos próprios para a captação das imagens de uma cosmologia ficcional, insere-se neste mesmo quadro de representação do invisível. A série Planisfério representa uma esfera ou globo terrestre sobre papel. Sua produção, a partir de uma escultura que não vemos, resulta em uma imagem que flerta com a ficção científica uma vez que aqui não é apenas o aparato de captação e tradução do fenômeno em imagem que é inventado, mas o próprio fenômeno é engendrado pela artista.

     

    Se a decifração do vento e do globo terrestre se dá, eletrônica e foto-alquimicamente, nos trabalhos de Cadu e Letícia Ramos respectivamente, as imagens super panorâmicas do deserto na série Interstices, de Haythem Zakaria, ativa um regime contemplativo através do qual o artista acessa os ritmos da paisagem e, inscrevendo-os geometricamente sobre as imagens, desvela sua ordem secreta.

     

    Entre a contemplação e a ficção, situam-se os desenhos de Gyula Sagi que sobrepõem uma geometria analítica rigidamente ordenada aos respingos de tinta que remetem à vasta tradição dos estudos científicos no domínio da mecânica dos fluidos.

     

     

  • A criação de estratégias para reivindicar ou representar uma ordem secreta que dê forma ao mundo pode ser observada nos trabalhos de Janaina Mello Landini, Katia Maciel, Flora Assumpção e Rodrigo Braga. A obra apresentada da série Ciclotrama, de Mello Landini, apresentada aqui acrescenta à sofisticada pesquisa da artista, marcada pela composição baseada em um sistema reticular de cordas e fios, uma série de notações numéricas que quantificam a complexa estrutura, revelando a matemática subjacente à beleza do trabalho.

  • A ideia de revelação também nos ajuda a compreender o trabalho de Katia Maciel que, com o travelling em loop do tronco de uma árvore, a um só tempo, instaura e revela o ritmo da textura orgânica da vida vegetal. As obras de Flora Assumpção e Rodrigo Braga aproximam-se desta ordem subjacente a todas as coisas a partir de estratégias de coleção e inventário, baseadas em analogias formais. A coleção de fósseis de Flora Assumpção associa os padrões das peles de serpente às tramas de correntes metálicas, enquanto o Inventário de peixes verdes, de Rodrigo Braga coloca em relevo as similaridades formais entre folhas de árvores e silhuetas de peixes.

     

  • Katia Maciel

    PISTA | INSTALAÇÃO | 2015

     

  • Flora Assumpção
    Fósseis [coleção I]. 2012-13.
    Resina, metais diversos e aço inoxidável
    35x50x12cm (aprox.)
    Fotografia: Flávio Lamenha

  • The Hummmmm, vídeo de Pedro Hurpia, baseia-se na suposta ocorrência de um fenômeno sonoro inexplicável. Pessoas ao redor de todo o mundo relatam, há décadas, escutar sons de baixa frequência e fonte desconhecida. O número elevado de relatos deste tipo – cerca de 17 mil, segundo pesquisadores independentes e entusiastas de teorias sobre o fenômeno – culmina em uma série de esforços algorítmicos de compreensão do misterioso fenômeno e projeção de suas consequências.   

     

  • Pedro Hurpia
    The Hummmmm
     | 2020

    21:9 | 9'50" | stereo | legendas em português | cor

    * necessário fone de ouvido | headphones required

  • Se nosso planeta, suas formas orgânicas e seus mistérios são escrutinados a partir de nosso desejo de conhecer os padrões e regularidades de fenômenos que podemos ver/conhecer, o investimento da razão algorítmica não se limita ao planeta Terra. Fonte de mistérios e manancial de referências poéticas, a ordem cósmica inspira as obras de Gyula Sagi, Gustavo Torrezan, Mayana Redin, Feco Hamburguer, Cinthia Mendonça e Luiza Crosman aqui apresentadas.

  • Os desenhos desta série de Gyula Sagi também lançam mão de uma geometria ficcional que, despida de seu caráter analítico, é sobreposta a formas abstratas que remetem aos corpos celestes. Tais imagens deslocam uma gramática visual que assemelha-se aos diagramas científicos para o campo da contemplação estética. Se em Sagi há uma ênfase nas formas e texturas imaginárias do cosmos, Gustavo Torrezan cria um dispositivo esquemático, no qual compõe constelações com ilhoses dourados, mimetizando a estrutura visível do cosmos e viabilizando, pelas variadas possibilidades de fixação do trabalho na parede, uma experiência perspectivista. Já o vídeo de Mayana Redin parte da última imagem do Hubble Ultra Deep Field Program, a mais profunda imagem do universo produzida em luz visível na qual se estima que há cerca de 10.000 galáxias de aproximadamente 13 bilhões de anos-luz. O gesto da artista consiste em retirar um pixel preto desta imagem e ampliá-la no tamanho do Black Square, de Kazimir Malevich. O rápido trânsito entre essas duas ordens de grandeza, propiciado pela imagem digital, culmina em um vídeo vertiginoso e aberto a múltiplas camadas de significação.

     

  • Mayana Redin
    1 Malevich Pixel, 2020

     

  • Imagens do céu noturno são recorrentes também na produção fotográfica de Feco Hamburger. As obras da série Quase meia noite, entretanto, não são fotografias, mas pinturas feitas com resina acrílica e alumínio sobre ACM. Os céus de QMN, produzidos com canetas, borrifadores, aerossóis e conta-gotas, propiciaram ao artista uma experiência literal de criação de mundos, a partir de uma negociação constante com os materiais utilizados. Embora não sejam fotografias, se assumirmos que o universo é infinito, podemos reivindicar que as composições pictóricas de Hamburger correspondem virtualmente à realidade cósmica vista desde algum ponto que ainda não acessamos.

     

    O trabalho de Cinthia Mendonça tensiona sutilmente as relações entre caos e cosmos. Açúcar e precisão é um políptico fotográfico no qual vemos um cubo de açúcar sendo manipulado com uma chave de precisão. O esfacelamento caótico e assimétrico do cubo de açúcar testemunha a relatividade e contingência dos instrumentos de que lançamos mão para nos relacionarmos com o mundo material. A brancura do açúcar sobre um fundo preto remete à criação do universo.

     

    Mayana Redin embala à vácuo as páginas de um atlas astronômico e uma peça de cerâmica articulando, mais uma vez, duas ordens de grandeza cujos padrões não somos capazes de determinar plenamente. Talvez apenas no vácuo seja possível reduzir as indeterminações cósmicas e materiais que, indiferentes às vontades humana, insistimos em tentar controlar.

     

    A mulher do tempo, de Luiza Crosman, é uma aula-vídeo-performance realizada originalmente na plataforma Zoom. Nela a artista investiga a história da meteorologia, sublinhando importantes transformações nas fascinantes infraestruturas de previsão do tempo e apontando para a modelização climática como elemento catalisador de uma futura governança global.

     

  • Luiza Crosman

    A Mulher do Tempo, 2020

    15m35s

    performance 

  • Os esforços para acessar padrões que organizam invisível e silenciosamente o mundo não se concentram exclusivamente na ciência e nas tecnologias algorítmicas contemporâneas. Talvez a crença em uma ordem cognoscível subjacente a tudo o que nos cerca seja um aspecto inerente à própria ideia de cultura. Nesse sentido, os trabalhos de Thiago Hersan, Alexandre Vogler, Juliana Freire e Edson Secco, Camile Sproesser, Nadam Guerra e Ergin Çavusoglu ajudam-nos a vislumbrar outras narrativas nas quais a razão algorítmica dialoga com saberes e práticas esotéricos, místicos e oraculares.

     

  • Thiago Hersan

    Algotypes, 2020

    Instalação

    Dimensões variáveis

  • Em Algotypes, Thiago Hersan se inspira em elementos esotéricos como pirâmides e cristais, frequentemente usados para explicar fenômenos invisíveis, para criar dispositivos que reagem aos sinais de WiFi emitidos por roteadores e telefones que se encontrem no raio de captação da obra. A despeito de sua invisibilidade, as redes WiFi possuem uma proveniência bastante tangível, em minerais, metais e suas energias radiantes. As pirâmides de Hersan evidenciam a presença invisível das redes WiFi, descortinando toda uma infraestrutura a que estamos alheios e, neste gesto, introduz outras invisibilidades energéticas em nosso horizonte.

     

  • Alexandre Vogler Duplo Fresnel 5, 2014/18 Serigrafia sobre papel 130x254cm

    Alexandre Vogler

    Duplo Fresnel 5, 2014/18

    Serigrafia sobre papel

    130x254cm

  • ORBE I
    Juliana Freire e Edson Secco
    Arte Sonora ( sound art ), 2021
    7m27s

     

  • O díptico de serigrafias Duplo Fresnel 5, de Alexandre Vogler, foi composto segundo a geometria presente em um tipo de lente desenvolvido pelo físico francês Auguste-Jean Fresnel. Originalmente concebidas para instalação em faróis marítimos, os desenhos presentes nas lentes de Fresnel possibilitam uma maior irradiação de luz e energia. A escala e a cor do trabalho criam um espaço vibracional imersivo no qual o corpo do espectador é afetado pela luz e pela energia condensada na obra, favorecendo uma experiência na qual as relações entre arte e espiritualidade são potencialmente ativadas.

     

    As relações entre arte e espiritualidade também aparecem em Orbe 1, de Juliana Freire e Edson Secco. O que ouvimos nesta peça sonora resulta de um trabalho de mediunidade chamado de canalização, através do qual a artista modula sua atenção e consciência para transitar e dialogar com seres e forças presentes em diversos planos existenciais. Não há um roteiro definido a priori e o que ouvimos resulta desta viagem interdimensional. A associação de Juliana Freire, que trabalha com diversas mídias desenhos, têxteis, performances e instalações, com o músico e artista sonoro Edson Secco, resultou em um trabalho que, independentemente de nossas crenças religiosas e espirituais, nos insere em uma atmosfera marcada pelo mistério e pela indeterminação da palavra mediúnica.

  • A criação de instrumentos oraculares e narrativos para lidar com a indeterminação é uma estratégia de que l. A obra quinta-feira 30.8.2012_sexta-feira 6.12.2013, de Vogler nasce de um curioso acaso. Em 30 de agosto de 2012, o artista foi tocado pelo que leu em seu horóscopo a ponto de recortar e aguarda a página do jornal e um pouco mais de um ano depois, foi surpreendido com o mesmo texto. A ambiguidade desta ocorrência está no fato de que ela tanto significar charlatanismo dos editores do jornal quanto um realinhamento dos astros. O universo pictórico de Camile Sproesser alimenta-se de referências literárias e mitológicas diversas e flerta com o imaginário ocultista e onírico. Em sua obra O encantamento figura um vaso ornamentado com uma mão que segura uma carta. Os baralhos, lúdicos ou oraculares, emblematizam a interdependência de caos e cosmos. O acaso que guia a mão em direção a uma carta desconhecia é limitado às cartas disponíveis no baralho.

     

    Oráculo do Insta consiste em um conjunto de pinturas produzidas por Nadam Guerra entre os dias 13 de janeiro e 9 de fevereiro de 2021, a partir de um ritual criado pelo artista que prevê a realização de uma pintura por dia, motivada por um desafio que muda a cada lunação. Quando da lua nova em capricórnio, ainda em janeiro deste ano, o artista decidiu invocar o oráculo do instagram e publicou um pequeno vídeo e alguns stories pedindo a seus seguidores que indicassem imagens que seriam pintadas na ordem aleatória da chegada das recomendações. Nas palavras do artista, este processo foi “como tirar cartas de um tarô comunitário. As coincidências entre as imagens e sentimentos percursos internos foram me surpreendendo a cada dia como costumam fazer os oráculos para quem é íntimo deles”.

  • Nadam Guerra Pintura do dia 2021/série 2 - Oráculo do Insta Técnica mista sobre algodão (Terra, pigmentos minerais, aquarela, nanquim,...

    Nadam Guerra

    Pintura do dia 2021/série 2 - Oráculo do Insta

    Técnica mista sobre algodão (Terra, pigmentos minerais, aquarela, nanquim, acrílica)

    115 x 160 cm

     

  • Por fim, apresentamos Desire Lines / Tarot & Chess, vídeo de Ergin Çavusoglu, artista que explora, lançando mão de uma grande variedade de mídias, as ideias de lugar, espaço, liminaridade e mobilidade como condições da produção cultural. O vídeo investiga padrões universais do comportamento humano e suas relações com o passado, o presente e o futuro. A recorrente presença de referências literárias e culturais na produção do artista se desdobra, na obra em questão, no diálogo com O castelo dos destinos cruzados, de Italo Calvino (1973) e na concepção de personagens que remetem aos do tarô de Marseille. A amplitude da pesquisa de Çavusoglu pode ser observada tanto em suas pinturas, que compõem o cenário da sala de jantar do vídeo e acrescentam outras camadas simbólicas à narrativa, quanto na presença do  jogo de xadrez, uma recorrência na obra do artista que condensa o seu aspecto conceitual e inegável fascínio pela figura de Marcel Duchamp. Essa multiplicidade de camadas resulta em um vídeo que nos convoca a pensar sobre os múltiplos caminhos que conectam origens a destinos. Destinos que seguimos sem saber se estão escritos nas estrelas, se são programados por máquinas ou se podem ser inventados por nós.

     

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    Devido à especificidade de algumas obras, nem todos os trabalhos estão disponíveis na visualização em 3D.

  • Ficha técnica:

    Curadoria: Icaro Ferraz Vidal Junior

    Design e produção: Laís Sambugaro

    Assessoria de imprensa: André Larcher

    Agradecimentos: Ani Molnár Gallery, Casa Triângulo, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Marcelo Guarnieri, Galeria Raquel Arnaud, Galeria Vermelho, Janaína Torres Galeria, Mendes Wood DM, Projeto Vênus, Simões de Assis.