André Penteado São Paulo, Brasil, 1970

André Penteado se destaca como um dos principais artistas visuais brasileiros da atualidade, utilizando a fotografia como um meio de investigação e reflexão sobre a história e seus desdobramentos na sociedade contemporânea. Seu trabalho transita entre o documental e o conceitual, explorando não apenas eventos marcantes da história do Brasil, mas também experiências pessoais de grande intensidade emocional. Seu olhar atento e metódico revela uma preocupação com a construção de narrativas, evidenciando a coexistência de diferentes versões da realidade e os processos de memória e esquecimento que permeiam a construção histórica e social.

 

Os projetos de Penteado são desenvolvidos ao longo de anos de pesquisa, envolvendo disciplinas como micro-história, sociologia e psicologia. A fotografia, em sua abordagem, assume um caráter arqueológico, funcionando como uma ferramenta para resgatar e reinterpretar eventos e memórias. Visualmente, suas imagens são marcadas pelo uso de flash para eliminar sombras, revelando detalhes que poderiam permanecer ocultos e estabelecendo uma analogia com o resgate de aspectos apagados das narrativas históricas.

 

Seu interesse pelo trauma, tanto em nível individual quanto coletivo, o levou a produzir séries impactantes, como Dad’s Suicide, na qual documentou seu próprio processo de luto após a morte de seu pai. Esse projeto se desdobrou em I Am Not Alone, que explora o luto por suicídio através de retratos, espaços vazios e registros de objetos significativos. Ao transformar experiências pessoais em arte, Penteado cria espaços de diálogo e pertencimento, desafiando tabus e promovendo reflexões sobre a relação entre imagem, memória e dor.

 

Outro aspecto central em sua obra é o questionamento sobre a construção da identidade nacional. Projetos como Missão Francesa investigam a influência cultural francesa no Brasil e a persistência de modelos eurocéntricos na formação da arte e da sociedade brasileira. Nessa pesquisa, Penteado estabelece conexões entre diferentes camadas históricas e culturais, dialogando com pinturas, arquitetura e personagens ligados à Escola de Belas Artes e à FAU/UFRJ. Seu trabalho questiona o apagamento de certas narrativas e evidencia a relação entre a fotografia e a história como uma construção ideológica.

 

Seus projetos fotográficos frequentemente se materializam em fotolivros, exposições e instalações, nos quais a relação entre imagem, texto e espaço expositivo é cuidadosamente planejada para potencializar o impacto narrativo. Em não estou sozinho, por exemplo, a organização do livro desafia o leitor com uma estrutura densa e provocativa, sem espaços de respiro, intensificando a experiência sensorial e psicológica do tema abordado.

 

Ao longo de sua trajetória, André Penteado se consolidou como um artista que utiliza a fotografia para tensionar e reconstruir narrativas, trazendo à tona histórias marginalizadas e reflexões profundas sobre luto, trauma, identidade e memória. Sua abordagem estética e conceitual desafia a ideia da fotografia como registro neutro, propondo, em vez disso, um diálogo entre documentação e subjetividade, entre visível e invisível, entre presente e passado.