• TERESA VIANA
     
    COR EM CARNE VIVA
  • Ao longo de mais de três décadas de trajetória, Teresa Viana construiu uma poética característica, baseada na fisicalidade da cor. Usando principalmente a técnica da encáustica — mistura de cera de abelha e tinta a óleo —, Teresa cria pinturas pulsantes, tridimensionais, instáveis, que envolvem o espectador por completo.

     

    Seus trabalhos buscam ativar os sentidos: visão, tato imaginado, olfato e afeto. A pintura, para ela, é um acontecimento, um corpo em estado de vibração.

  • Pintura sensorial

    Pintura sensorial

    A pintura de Teresa Viana não se vê apenas com os olhos — ela se sente com o corpo inteiro. Seu gesto não é ilustrativo, mas instintivo, direto, enraizado em um fazer quase ritual. Cada obra nasce de um processo em que visão e ação se misturam: a artista responde às cores, às formas e à matéria como quem escuta uma música — improvisando, recombinando, criando ritmo.

     

    Comparada muitas vezes ao jazz, sua pintura não conta com esboço prévio, nem narrativa a seguir. O pincel carrega tinta como um instrumento carrega som, e a superfície da tela se transforma em partitura sensorial. Camadas espessas de tinta e cera se projetam para fora da tela, criando relevos, texturas e sombras. A obra ganha peso, volume, temperatura.

     

    Essa fisicalidade não é efeito: é essência. A pintura, aqui, é uma presença que ocupa o espaço e convoca o espectador a se mover, aproximar, respirar junto.

  • Encáustica como linguagem

    A poética de Teresa Viana é indissociável da matéria. Sua técnica principal — a encáustica — combina óleo e cera de abelha, resultando em uma pintura espessa, vívida, quase escultórica. A cor não é aplicada: ela é construída em camadas, massas, blocos que se projetam para fora da tela.

    Em sua pintura, a cor é matéria viva. É comum que as camadas atinjam até cinco centímetros de profundidade, criando relevos que jogam com luz e sombra, e que atiçam o tato imaginado.

    A artista utiliza uma paleta vibrante de cores artificiais, viscosas, saturadas — como rosa chiclete, verde rançoso ou vermelho vinho. Essa estratégia cromática não busca harmonia, mas sim provocar uma experiência contraditória, que atrai e repele ao mesmo tempo.

  • Entre abstração e figuração

    A pintura de Teresa Viana opera entre o abstrato e o figurativo, sem jamais se fixar em um desses polos. Suas imagens nascem da escuta atenta do processo, do gesto, da matéria. Ainda assim, formas e paisagens podem emergir — como ecos, como lembranças difusas, como cidades que nunca vimos, mas sentimos.

    Em cada tela, há uma perda deliberada de rumo, o que também se manifesta na decisão de não nomear os trabalhos. Ao evitar títulos explicativos ou descritivos, Teresa preserva o enigma das imagens e reforça a liberdade interpretativa do espectador.

  • Diálogo com a história da pintura

    Diálogo com a história da pintura

    A aposta de Teresa Viana na cor como estrutura evoca os grandes coloristas modernos — Matisse, Monet, Bonnard. Outros nomes também ecoam em sua prática: Iberê Camargo, Dubuffet, Van Gogh, Tàpies, Pollock. Mas sua abordagem não é celebratória. Na sua pintura, a pincelada é feita com trincha, não com dripping: o gesto é deliberado, não performático.

  • Trajetória

    Trajetória

    Teresa Viana nasceu no Rio de Janeiro, em 1960. Formou-se na Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 1985 e 1989 — espaço fundamental para o surgimento de uma nova geração de artistas brasileiros que, nos anos 1990, reafirmaram a pintura como meio expressivo em meio a um cenário marcado por discursos conceituais e práticas desmaterializadas. Em 1992, mudou-se para São Paulo, onde vive e trabalha desde então.

     

    Sua carreira é marcada por uma atuação contínua no circuito artístico nacional, com exposições individuais e coletivas em instituições de prestígio. Recebeu duas vezes a bolsa da Pollock-Krasner Foundation (2001 e 2018) e participou, em 2019, da residência artística no International Studio & Curatorial Program (ISCP), em Nova York.

     

    A artista compartilha muitos dos princípios da chamada “Geração 90” da arte brasileira: o resgate da pintura como linguagem viva, a valorização da materialidade, o embate com a história da arte e a busca por formas sensoriais e críticas de expressão pictórica.