Biastiário: matriz das malícias: Fernando Velázquez

26 Agosto - 4 Outubro 2025

Em Biastiário: matriz das malícias, sua quinta exposição individual na Zipper Galeria, Fernando Velázquez aprofunda sua pesquisa sobre a inteligência artificial, investigando temas entre natureza e tecnologia, orgânico e sintético. O título une as palavras bias (viés, em inglês) e bestiário — livros medievais que reuniam imagens de criaturas fantásticas usadas como material pedagógico.


As imagens que ocupam paredes e teto da galeria funcionam como afrescos de uma capela imaginária. Criadas com auxílio de IA, elas apresentam seres estranhos e familiares ao mesmo tempo, como vestígios de um futuro em que biosfera e tecnosfera se fundiram em uma “pós-ecologia” de carne, código e glitch.


A mostra também inclui três blocos de chumbo com frases e poemas, dando continuidade ao uso recorrente da palavra na prática do artista. Os blocos de chumbo, feitos com tipos móveis de antigas gráficas, remetem à era da impressão, contrapondo-se à instantaneidade digital. Entre passado e futuro, o artista nos lembra que toda tecnologia, seja a prensa ou a inteligência artificial, traz consigo marcas, memórias e vieses.


Um terceiro núcleo é formado por um vídeo em stop motion, composto por mais de mil imagens exibidas em velocidade vertiginosa. O fluxo pode ser interrompido por um pedal interativo, permitindo ao visitante explorar quadro a quadro, como quem investiga os sonhos de uma máquina.


Entre afrescos digitais, tipografias em chumbo e animações frenéticas, Biastiário: matriz das malícias constrói um espaço ambíguo que recusa tanto utopia quanto distopia. Velázquez propõe a reflexão: que novas formas de existência estamos criando junto com as máquinas, e o que restará de humano nesse processo?