A obra de Camille Kachani opera em um campo de tensões, onde natureza e cultura, familiaridade e inquietação, funcionalidade e absurdo se sobrepõem. Partindo de um olhar atento ao cotidiano, o artista subverte objetos corriqueiros, retirando-os de seus contextos originais e dotando-os de novas camadas de significado. Livros dos quais brotam galhos, ferramentas que se tornam organismos híbridos, móveis que se desdobram em paisagens vegetais — seu trabalho desafia a ideia de domesticação da matéria, evidenciando uma insurgência do natural sobre o artifício.
A dualidade entre organicidade e construção humana atravessa sua produção, instaurando um espaço de ambiguidades visuais e conceituais. Em suas esculturas e assemblages, Kachani promove o deslocamento da função e da forma, instaurando um estranhamento que oscila entre o encantamento e o desconforto. O que poderia ser apenas um objeto utilitário revela-se, sob seu olhar, um elemento mutante, carregado de narrativas latentes.
Seu percurso pessoal – marcado pela experiência do exílio e do deslocamento entre o Líbano e o Brasil – permeia sua investigação sobre identidade e pertencimento. Em sua obra, a memória materializa-se em fragmentos reorganizados, sugerindo que cultura e identidade são processos em constante reinvenção. A ressignificação de materiais encontrados, muitas vezes descartados, também aponta para uma dimensão crítica: ao aproximar-se do absurdo e da ironia, Kachani comenta sobre os excessos do consumo e a relação paradoxal entre progresso e desperdício.
Além da carga simbólica, seu trabalho propõe uma reflexão sobre a passagem do tempo e a transformação dos elementos que nos cercam. Como um arqueólogo do presente, o artista desmonta, reconfigura e devolve ao olhar do espectador um mundo onde as fronteiras entre o humano e o natural, o funcional e o inerte, são constantemente questionadas.
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Principais exposições individuais: Uma Contra-História do Brasil, Zipper Galeria (São Paulo, 2025); Orquestra Assinfônica Fotossintética, Zipper Galeria (São Paulo, 2023); FUNARTE (São Paulo, 2008); Temporada de Projetos, Paço das Artes (São Paulo, 2007); TRAJETÓRIAS, Fundação Joaquim Nabuco (Recife, 2007); Instituto de Arte Contemporânea (Recife, 2005); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2004).
Principais exposições coletivas: “Adiar o fim do mundo”, FGV Arte (Rio de Janeiro, 2025); “Doações recentes (2012-2015)”, MAR (Rio de Janeiro, 2016); Bienal Internacional de Curitiba, MAC/PR (Curitiba, 2015); “A Casa”, MAC/USP (São Paulo, 2015); “Esculturas Monumentais”, Praça Paris (Rio de Janeiro, 2014); XIV Biennale Internationale de l’Image (Nancy, França, 2006).
Principais coleções institucionais: MAR – Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, Brasil); MAM/SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo (São Paulo, Brasil); MAC/USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil); MAC Niterói – Coleção João Sattamini (Niterói, Brasil); MAM Rio – Coleção Gilberto Chateaubriand (Rio de Janeiro, Brasil); MAC Paraná – Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, Brasil); MoLAA – Museum of Latin American Art (Los Angeles, EUA); Fundación Otazu (Navarra, Espanha); Colección Metropolitana Contemporánea (Buenos Aires, Argentina); Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam (Havana, Cuba); Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil); Instituto de Arte Contemporânea (UFPE, Recife, Brasil).

