
* Imagem de capa: 3º Seminário Acadêmico de Economia de Arte da FGV.
O ecossistema brasileiro de artes visuais, em sua complexidade e crescente inserção global, exige que artistas compreendam o mercado no qual querem se inserir e atuem de forma estratégica. Saber como se formam os valores, de que modo atuam as galerias, colecionadores e instituições, e quais são as forças econômicas que moldam o circuito é parte fundamental de uma carreira sustentável.
Foi com esse espírito que, em 25 de setembro de 2025, aconteceu o 3º Seminário Acadêmico de Economia de Arte da FGV, organizado pelo Centro FGV Invest, reunindo acadêmicos e profissionais para discutir os caminhos e desafios do mercado contemporâneo. As mais de quinze pesquisas apresentadas traçaram um amplo panorama deste mercado.
Inspirados por esse encontro, reunimos aqui alguns dos principais aprendizados e reflexões que podem ajudar artistas emergentes a se posicionarem de forma mais consciente e estratégica no mercado.
Conteúdo do artigo:
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Invista em criar conteúdos que mostrem seu processo criativo
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Invista na trajetória, validação institucional e seja resiliente
1. Use as mídias digitais como agentes de consagração
Laura Brunello no 3º Seminário Acadêmico de Economia de Arte da FGV.
Se em pleno 2025 você ainda não divulga sua produção nas redes sociais, a pesquisa de Laura Brunello e Camilla Reginato Myrrha pode te fazer reconsiderar essa decisão. No artigo “As redes sociais como novo agente do sistema da arte: impactos econômicos, simbólicos e sociais”, as pesquisadoras discorrem sobre como o Instagram e o TikTok tornaram-se agentes autônomos no sistema da arte, com poder real de influência institucional e comercial.
Segundo elas, o Instagram, em especial, tornou-se a principal galeria virtual do século XXI. Mais de 60% dos colecionadores latino-americanos e asiáticos utilizam o Instagram como principal ferramenta para descobrir novos artistas. Em 2024, 55% dos colecionadores das novas gerações (Millennials e Geração Z) afirmaram que os números de curtidas, comentários e seguidores influenciavam diretamente sua percepção de valor das obras.
2. Invista em criar conteúdos que mostrem seu processo criativo
Zhao Xiaoli, artista visual e criadora de conteúdo, em seu ateliê.
Ainda na mesma pesquisa, Brunello e Myrrha concluem que um dos conteúdos mais eficazes no mercado é aquele que revela a jornada do artista, deslocando o foco da obra finalizada para a sua criação. Para a nova geração de colecionadores, acompanhar o processo criativo é mais relevante (49%) do que possuir a obra mais cara. Ou seja, para além de postar fotos do trabalho já finalizado, é importante utilizar as redes sociais para mostrar os bastidores dos projetos, os processos criativos e as suas intenções por trás da obra para gerar conexão e interesse.
3. Priorize fatores tangíveis na precificação
Gabriela Galvão no 3º Seminário Acadêmico de Economia de Arte da FGV.
Quando o assunto é precificação de obras, é comum que surjam dúvidas e apreensões até mesmo para profissionais experientes, quem dirá para artistas que ainda estão em início de carreira. Não à toa, a cientista política, economista e artista visual Gabriela Galvão está desenvolvendo uma plataforma online para que os criadores emergentes possam, a partir do preenchimento de um breve formulário, terem automaticamente uma estimativa do potencial preço de sua obra.
Como parte do processo de desenvolvimento desta fórmula matemática, Galvão publicou a pesquisa “Métodos tradicionais versus métodos automatizados de precificação para artistas emergentes: Um estudo exploratório sobre estratégias e modelos de precificação para novos artistas no contexto contemporâneo”, na qual ela afirma que esforço direto do artista ainda é o fator decisivo no valor da obra. Ou seja, as variáveis mais significativas para precificações consistentes são o custo de materiais e recursos, as horas trabalhadas e o tamanho da obra. Esses elementos concretos e mensuráveis são valorizados em contextos de baixa validação institucional, refletindo o esforço produtivo e o investimento físico e criativo. Por outro lado, as análises mostraram que nenhuma das variáveis demográficas (gênero, idade, estado de residência) apresentou significância estatística para determinar o preço das obras de artistas emergentes.
4. Invista na trajetória, validação institucional e seja resiliente
Outro ponto interessante apontado pela pesquisadora foi: o tempo e a consistência da carreira são fatores que multiplicam o valor da obra. Por isso é extremamente importante manter uma pesquisa coesa, que amadureça, mas seja resiliente ao tempo, lembrando que o preço cresce significativamente à medida que o artista se engaja em sua trajetória. Fatores como participação em editais, salões, residências, feiras de arte e exposições coletivas e individuais são altamente relevantes para agregar valor e legitimidade.
5. Inscreva-se para o 17º Salão dos Artistas Sem Galeria
Vista da mostra do 12º Salão dos Artistas Sem Galeria.
Para artistas emergentes, uma das etapas mais desafiadoras é conquistar visibilidade e inserção no circuito sem o respaldo de uma galeria. Nesse sentido, o Salão dos Artistas Sem Galeria, promovido pelo portal Mapa das Artes na Zipper Galeria, vem, desde 2010, revelando novos talentos e conectando-os a profissionais, espaços e colecionadores.
As inscrições para a 17ª edição da mostra estão abertas até 20 de outubro de 2025, por meio do formulário neste link. Podem participar artistas visuais brasileiros ou estrangeiros residentes no país, com 16 anos ou mais, sem representação por galerias de São Paulo. A candidatura é feita por meio do envio de ficha, currículo e portfólio em PDF (com até 10 obras) via formulário online, mediante taxa de R$ 170,00.
Dez artistas serão selecionados para participar da mostra coletiva em São Paulo, de 17 de janeiro a 28 de fevereiro de 2026, com divulgação dos nomes em 3 de novembro de 2025.
Link para inscrição:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScxcacqBCTJuVAkrsYx634O_2XiYLihGrZ8qCkuUdADqASVBw/viewform