João Castilho: atravessar imagens, poética em camadas

Conheça quatro obras que traçam a amplitude de uma poética marcada pela subversão das imagens fotográficas
Novembro 27, 2025
João Castilho: atravessar imagens, poética em camadas

Há artistas que olham para o mundo e há artistas que o atravessam – João Castilho decididamente pertence ao segundo grupo. Natural de Belo Horizonte, Castilho investiga a potência das imagens fotográficas em revelar camadas do tempo, da história e da percepção. 


Confira, a seguir, um breve panorama de sua pesquisa em quatro obras.


Conteúdo do artigo:

 

 

Barroco Neotropical (2021)


“Barroco Neotropical” é um políptico composto por nove peças, cuja repetição em módulos remete aos azulejos portugueses que revestem muitas igrejas barrocas. A referência é ligada à própria história de Minas Gerais, estado onde João Castilho nasceu e vive até hoje, afinal, Minas, junto à Bahia e Pernambuco, foi um dos principais centros do movimento artístico no Brasil. 


Com imagens de Ouro Preto, Mariana, Sabará e Congonhas, João Castilho ressignifica a estética de herança colonial, marcada por fortes contrastes dramáticos e de caráter intensamente ornamental, propondo um trabalho igualmente rico em texturas e camadas, mas com temperatura e cores tropicais.

 

Atmosfera (2024)

Dos estudos de nuvens de Constable às paisagens nebulosas e expressivas de Turner, o céu é um motivo que atravessa toda a história da arte, quase sempre ligado à contemplação. Na obra “Atmosfera”, com quase quatro metros de extensão, Castilho desloca a temática para um Brasil contemporâneo, onde há uma saturação de cores que, devido à maior incidência solar ao longo do ano, provoca laranjas, violetas e rosas mais vibrantes nos amanheceres e entardeceres. A umidade e a maior formação de nuvens, também desenham contornos sobre os azuis infinitos. 


Auroras rosadas, horizontes incendiados pelo pôr do sol em azuis suaves, amarelo, laranja, lilás ou rosa. As cores e formações das vinte fotografias que compõem a instalação sugerem passagens do dia, momentos efêmeros, intensificados pela velocidade com que as condições climáticas se transformam no trópico. 

 

O livro dos dias (2020) e A longa noite (2020)

 

De um lado, a obra “O livro dos dias”: um diário sem narrativa linear. Uma colagem  analógica, feita de sucessivas camadas em formas ovais. É no modo como essas imagens se acumulam e se sobrepõem que se constrói o sentido do trabalho. Do outro, “A longa noite”, uma segunda obra que, apesar de apresentar a mesma estrutura formal, mergulha em uma paleta mais densa, profunda e cósmica. Nesta, as imagens revelam fragmentos de céus estrelados, nebulosas e galáxias.


Em ambas, o movimento concêntrico conduz o olhar para dentro, mas em “A longa noite” cria a sensação de mergulho num espaço vasto e desconhecido, em contraposição com à leveza diurna de “O livro dos dias”. 


Os títulos fazem referência ao período da pandemia, quando essas as obras foram feitas. Foi nesse momento, por isolamento social, que o artista passou a trabalhar com colagens analógicas, uma novidade em seu trabalho.

 

Visite a Zipper Galeria

Se você se interessou em conhecer as pesquisas visuais de João Castilho, faça uma visita à Zipper. A galeria está localizada na Rua Estados Unidos, 1494, em São Paulo, e funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h.

 

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