Zipper Galeria na ArPa 2025: Véspera–Presságio

Rodrigo Braga e Ivan Grilo exploram o tempo em combustão e renascimento
May 26, 2025
Rodrigo Braga, Presságio (Fulgor #03), 2025. Fotografia (impressão fine art sobre papel de algodão). 60 x 90 cm
Rodrigo Braga, Presságio (Fulgor #03), 2025. Fotografia (impressão fine art sobre papel de algodão). 60 x 90 cm


Para a 4ª edição da
ArPa, a Zipper Galeria ocupa o estande B4 com obras de Ivan Grilo e Rodrigo Braga. Pela primeira vez lado a lado, os dois artistas apresentam obras inéditas, criadas especialmente para a ocasião da feira, que dialogam sob uma atmosfera rarefeita da véspera e do presságio – dois tempos semelhantes, mas de concretudes distintas. 


A véspera seria a dobra entre o último rastro do que foi e o lampejo do que está por vir – é o hoje se esticando na direção do amanhã imerso na expectativa. O presságio é aquele tremor no ar antes da mudança, aqueles sinais do futuro sussurrados pela matéria.

Ambos artistas apresentados possuem produções voltadas à natureza e aos seus fenômenos, cada qual construindo mundos próprios, conectados por uma sensibilidade comum: a de narrar por imagens. 


Conteúdo do artigo:

 

 

Rodrigo Braga – A fragilidade, o ritualístico e a transformação


Rodrigo Braga, Presságio (Fulgor #04), 2025. Fotografia (impressão fine art sobre papel de algodão). 60 x 90 cm


Rodrigo Braga leva à feira uma série inédita composta por quatro fotografias e quatro desenhos, elaborados em torno de dois símbolos fundamentais da existência: o ovo e o fogo. Um representa o que ainda não aconteceu, enquanto o outro, aquilo que pode marcar o fim de um ciclo. 

 

Nas imagens, vemos ovos envoltos por uma aura quente, um campo vibracional em combustão que ora cuida, ora ameaça. O fogo é aquele elemento que protege, alimenta, além de ser essencial para a existência humana, mas também consome, queima e destrói. Aqui a ameaça é manipulada, o fogo está está nas palmas das mãos, e é ninho que aquece o ovo para sua transformação. Como afirma o artista: 

“Assim como o fogo tem sua dupla face, a destrutiva e a regeneradora, a ideia de presságio também comporta uma ambiguidade – ora o bom presságio, ora o mau presságio. O tempo presente está repleto de contradições, próprias de uma humanidade em veloz e voraz expansão.”

O ovo, por sua vez, é uma figura arquetípica do porvir, que na obra sugere uma gestação latente diante da iminência de ruptura. É nessa ambiguidade entre a delicadeza da casca e a fúria do calor que se dá a tensão poética da série. 

 

O artista recorre a essas simbologias para metaforizar o tempo presente em combustão, atravessado por contradições e urgências, mas ainda capaz de germinar futuros.

Ivan Grilo – O milagre dos recomeços

Se nas obras de Braga a chama ainda é uma ameaça apenas tenuamente sugerida, nas de Ivan Grilo o incêndio e suas consequentes destruições já passaram. A partir de uma residência nas Ilhas Canárias, onde se deparou com um dos maiores vulcões do mundo, o artista desenvolveu uma série de trabalhos que imaginam o depois da erupção. A vista proposta por Grilo é aquela de quem abriu os olhos após o fim. Mas, paradoxalmente, o solo devastado ao redor dos vulcões é excepcionalmente fértil e é desse chão que nascem as imagens desse conjunto de trabalhos.

 

 

 

 

Em meio aos escombros férteis do pós-erupção, o artista nos entrega, com beleza, o registro de um renascimento possível. Há ali um broto primogênito desabrochando e uma pedra-pomes, formada a partir das erupções. Mas no centro, em destaque, está algo que se parece com um eclipse solar ou um vulcão visto de cima, que na realidade é o registro de óvulo no exato momento em que é fecundado - uma explosão microscópica visível apenas por meio de equipamentos específicos.

 

Na esteira dessa força telúrica que tudo destrói para adubar o recomeço, surgem também obras de grande ternura. As peças de linho, marcadas a calor com frases como “uma espera impecável” e “abro os olhos”, relatam o instante em que a terra, ainda fumegante, respira pela primeira vez. 

 

 

Característica de sua produção, as placas de bronze com inscrições poéticas, geralmente com verbos no infinitivo, desta vez, assumem a primeira pessoa: “vivencio o milagre, te conto nos olhos, coreografo os ritos…”. A mudança implica a transformação do mantra como possibilidade aberta e universal, para a posição de testemunho concreto. 

 

Partindo de símbolos arquetípicos e elementos naturais – o ovo, o fogo, o vulcão, a semente – ambas produções lidam com a ideia de gênese e transformação que se dá por um atravessamento, e a ambiguidade entre potência e fragilidade. O solo fértil que brota após ser queimado pela lava; a luz que se irradia de uma célula fecundada; a casca que protege o mundo em formação e que precisa resistir à combustão. 

 

Enquanto o ovo, na obra de Rodrigo Braga, é envolto pela aura externa do fogo, o óvulo, na de Ivan Grilo, lança de si a faísca que anuncia toda a potência de vir a ser. São dois corpos esféricos que guardam a promessa de uma existência futura. Uma reflexão sobre o tempo, o fim e os recomeços. 

 

Esperamos por você entre os dias 28 de maio e 1º de junho no estande da Zipper Galeria na ArPa.


SERVIÇO:

Feira ArPa 2025
Zipper Galeria | Estande B4
Data: 28 de maio a 01º de junho de 2025
Local: Mercado Livre Arena Pacaembu
Endereço: Rua Capivari, s/n, portão 23, Pacaembu – São Paulo, SP
Ingressos: R$30 – R$60