Quem é Ian Salamente, artista em exposição na Zipper Galeria?

Do 16º Salão dos Artistas Sem Galeria a artista representado e com individual em São Paulo, conheça o pintor que trata das tensões sociais do Rio de Janeiro
July 31, 2025
Vista da exposição “Fome do Cão” na Zipper Galeria. Foto: Gui Gomes
Vista da exposição “Fome do Cão” na Zipper Galeria. Foto: Gui Gomes

Vista da exposição “Fome do Cão” na Zipper Galeria. Foto: Gui Gomes

 

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Trajetória, pesquisa e ascensão

Ian Salamente nasceu em 1997, em Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro. Em 2023, mudou-se para a capital fluminense em busca de novas perspectivas para seu trabalho. A transição foi bastante impactante na sua trajetória pessoal, mas também se refletiu nas suas investigações poéticas, trazendo novos símbolos para seu vocabulário visual. Da borda litorânea ao centro, o artista passou a narrar em composições à óleo suas experiências com a cidade, expondo as contradições da vida urbana, suas fraturas e resistências.

 

Seu processo criativo normalmente começa por imagens despretensiosas, especialmente fotografias que faz em seu cotidiano. Não à toa, os personagens que protagonizam suas telas frequentemente são inspirados por familiares, amigos e vizinhos. Depois Ian organiza as composições como colagens para então partir para a pintura.O sal, elemento simbólico e afetivo para Salamente, também reverbera em suas composições. Filho de uma família que há gerações vive do trabalho com o mineral abundante na Região dos Lagos e pilar econômico de sua cidade natal, o artista carrega as marcas dessa herança. Em algumas de suas pinturas, surgem pequenos amontoados de sal, representando conservação e tempero, mas também sugerindo as dificuldades e o esforço físico dos corpos que moldaram sua história familiar.

 


Ian Salamente, “Troféu pt. 2”, 2024.

 

O ano de 2025 tem sido um grande ponto de virada profissional para o artista. Logo no início, Ian participou da 16ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria, onde apresentou “Troféu pt. 2” (2024), uma obra que viria a conquistar o prêmio de 1º lugar na exposição. A pintura, exibida no ano anterior na mostra coletiva “Uma terra do futuro”, na NIL Gallery, em Paris, retrata um menino de fronte curvada que segura em mãos uma estátua conhecida como “Anjo Caído”. O monumento foi erguido em 1907, às margens do Canal do Itajuru, para marcar a abertura do Canal Palmer, para o escoamento do sal da Laguna de Araruama. Com o tempo, a escultura – cuja figura representada é a deusa grega Niké, símbolo clássico da vitória – tombou sob a ação das marés e dos ventos, passando a ser chamada popularmente de “Anjo Caído”. A obra de Salamente reflete sobre o desejo de ascensão com a iminência da queda e, com a premiação, ganha novas poéticas e metalinguísticas sobre a ideia de “troféu” que é citada no título.

 

Vista da exposição  “Do sal ao estreito”, no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro.

 

Em maio deste ano, Salamente realizou sua primeira individual, intitulada “Do sal ao estreito”, no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. A mostra explorou a paisagem da terra natal do artista, tendo o sal como fio condutor para tratar de temas como trabalho, afeto, urbanidade e o isolamento de quem vive fora dos grandes centros urbanos. Em julho, o artista retornou à Zipper Galeria, agora como artista representado, com a individual “Fome do cão”, com curadoria de Rayssa Veríssimo. 

 


Ian Salamente, “Pela Sombra”, 2025. Foto: Gui Gomes

 

A atual exposição destaca obras como "Pela sombra" (2025), em que o artista faz da pintura um objeto. A cena de um homem com uma criança no colo é parcialmente coberta por um toldo verde, feito a partir de uma sacola de uma loja do Saara, região onde o artista hoje reside e é conhecida por sua concentração de pequenos comércios, camelôs e lojas de importados. Pode-se dizer que as ideias de proteção e cuidado são sobrepostas em duas camadas: a primeira, afetiva, no gesto do adulto que segura a criança; a segunda se dá pelo toldo que cobre as duas figuras. No entanto, acima desse abrigo há uma sinaleira de garagem, que introduz uma tensão de alerta à representação desse abrigo. 

 


Vista da exposição “Fome do Cão” na Zipper Galeria. Foto: Gui Gomes

 

Outro elemento recorrente na exposição é a figura do cachorro. Na obra “Sem fastio (Fome de cão)” (2025), por exemplo, o animal apresenta pequenas manchas vermelhas, como uma referência à iconografia religiosa de São Sebastião, cujas chagas foram, por vezes, representadas desta mesma forma na pintura devocional.

 

Com esse simbolismo, Ian aproxima o corpo do animal à imagem do santo martirizado, protetor contra a fome e a peste. Mas na obra a fome não é só literal, é uma alegoria para a ambição, a necessidade de mover-se, o desejo de algo que ainda não se tem.

 

 

Visite a Zipper Galeria


Vista da exposição “Fome do Cão” na Zipper Galeria. Foto: Gui Gomes

 

Conheça mais do trabalho de Ian Salamente visitando sua exposição “Fome do cão”, que segue em cartaz na Zipper Galeria até dia 23 de agosto de 2025. A Zipper funciona de segunda a sexta, das 10h às 19h e, aos sábados, das 11h às 17h, na R. Estados Unidos, 1494 - Jardim América, São Paulo – SP.