Existe uma potência imensurável na delicadeza de um traço verdadeiramente honesto. Numa artista que saiba seguir o impulso da linha, sem ceder à tentação das formas já reconhecíveis ou à representação. Consuelo Veszaro é um desses casos.
A artista, que apresentou sua primeira exposição individual no programa Zip’Up da Zipper em 2024, passando a compor o programa de representados pela galeria no segundo semestre daquele mesmo ano, desenvolve uma pesquisa experimental sobre o desenho entre o campo plano e o tridimensional. No seu trabalho, a linguagem se depura até o essencial, a fim de propôr uma percepção da linha como elemento estruturante do mundo.
Conheça a seguir um pouco mais dos fundamentos que sustentam sua pesquisa.
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Linha como elemento mínimo e autônomo

Desde os tempos da faculdade de Artes Plásticas, que ingressou em 1998, Veszaro já movia suas experimentações em torno da geometria – um campo que, mais tarde, viria a estruturar sua produção autoral. Curiosamente, era uma aluna que detestava desenhar, até que um professor lhe mostrou que o desenho é a essência de todo ato criativo.
Hoje seus trabalhos evocam o germe essencial do desenho enquanto linguagem: ponto, linha e plano. Não há intenção de representar ou de abstrair, bem como não há hierarquia entre criadora e criatura em seu processo criativo. “Não tento impor meus desejos sobre a linha”, diz Veszaro. “É um diálogo. É como um jogo de tênis.” Cada traço lhe devolve algo; a linha reverbera na artista, no espaço, e finalmente no espectador. O que existe ali é uma dimensão completamente empírica de dar autonomia ao traço para que este, sim, revele suas próprias intenções.

A sua busca pela síntese, pela forma reduzida ao necessário, se estende também à sua paleta de cores essencialista, centrada especialmente nos pretos, brancos, cinzas, vermelhos e ocres. “Vou tirando as distrações”, ela explica. Essa depuração cromática vem do mesmo gesto de escuta dos traçados, são um modo de dar corpo somente ao que a composição demanda; de concentrar a atenção no que sustenta a forma, no diálogo entre figura e fundo, presença e vazio.
Em suas obras mais recentes, de 2025, Veszaro aprofunda a liberdade do gesto. Nas telas, a linha torna-se mais robusta, mais gestual, embora ainda construtiva. “É mais traço do que linha”, nas palavras da artista. Figura e fundo, vazios e formas, linhas e manchas gráficas são ainda mais tensionados e menos dissociáveis. Algumas dessas criações também evocam estruturas articuladas, que parecem se dobrar, interagir umas com as outras; existir. A autonomia do traçado aqui é tamanha que ele chega a ser personificado.

A expansão do desenho
Quando a crítica e teórica estadunidense Rosalind Krauss analisou, na década de 1970, como a escultura estava deixando de ser somente um objeto erguido sobre um pedestal e se expandindo para conceitos mais amplos, mais próximos da ideia de uma estrutura relacional situada entre paisagem e arquitetura, ela estava abrindo também uma nova maneira de pensar o espaço como linguagem.
Foi a partir dos estudos de Krauss que passou a se falar sobre “campo expandido” na arte. Hoje, entende-se que as linguagens não são definidas pelo suporte ou material utilizado: pode haver desenho em um objeto escultórico, bem como uma coreografia pode ser desenho no espaço e o encontro entre dois planos, como a quina de uma parede, pode também ser considerado desenho.

No trabalho de Veszaro, o desenho em acrílica sobre tela é o mesmo que o feito de ferro oxidável. Um não é uma evolução do outro. Se “a linha é um ponto que saiu para passear”, como definiu o artista e professor sueco-alemão Paul Klee, as esculturas de Consuelo passeiam no espaço, convidando também os vazios para a composição plástica. Ela ergue a linha no ar, equilibra pesos e constrói, essencialmente, desenho. São arquiteturas visuais que se sustentam na própria vulnerabilidade, na possibilidade do colapso, sem afirmar qualquer solidez.
Visite a Zipper Galeria

Se você se interessou em conhecer mais do trabalho de Consuelo Veszaro, faça uma visita à Zipper. A galeria está localizada na Rua Estados Unidos, 1494, em São Paulo, e funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h.

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