De 8 de maio a 7 de julho de 2025, a Zipper Galeria recebe Tantos museus dentro da gente, exposição individual de Marco Tulio Resende, com curadoria de Tálisson Melo. Ocupando os dois andares da galeria, a mostra apresenta um conjunto de trabalhos que atravessam diferentes fases da trajetória do artista mineiro, reconhecido por sua abordagem poética sobre a transformação de materiais elementares — como tijolos, argila e terra — em veículos de reflexão sensível.

A exposição reúne trabalhos criados desde 1980, quando Resende voltou a Belo Horizonte após um período de estudos em Chicago, Estados Unidos, até obras mais recentes que reconfiguram uma mesma iconografia própria do repertório construído pelo artista ao longo de mais de 40 anos de trabalho. Os núcleos da exposição revelam a profundidade e a coerência de seu pensamento artístico, em um percurso marcado por temas como espiritualidade, identidade, memória e condição humana.

Na série Urbanália (1980), com desenhos, esculturas, objetos e pinturas, o artista ressignifica coisas encontradas pelas ruas da cidade por meio de sutis intervenções. Cada peça, por sua vez, se desdobra em desenhos e reverbera no processo criativo de Resende ao longo dos anos seguintes.

Na série Ex-Votos (1997), o artista revisita o imaginário religioso, mas vai além das promessas de fé para abordar, com densidade emocional, a dor e o sofrimento humano. Em Recortes de Parede (2004), Resende utiliza tinta de terra — mistura de solos, água, cola e pigmentos — para recriar esses objetos em outra escala. Os tons das obras variam conforme o solo e refletem uma prática que é ao mesmo tempo sustentável e profundamente conectada ao território.

A série Cabeças (2013), produzida com terra de diversos municípios mineiros e queimada em forno Noborigama a altíssimas temperaturas, evoca a história do Bairro das Cabeças, em Ouro Preto. As esculturas cerâmicas, inspiradas na técnica japonesa Bizen, trazem deformações que remetem ao sofrimento, ao sagrado e ao ritual, conectando tradições africanas, votivas e populares em uma poderosa alegoria da identidade.

Em Ecce Homo (Tijolos) (2013), a intervenção sobre o barro modelado e submetido ao mesmo processo cerâmico ancestral adquirem novas camadas simbólicas. São esculturas que tensionam construção e ruína, presença e ausência, evocando o ciclo da vida e a fragilidade das estruturas humanas.

Por fim, nos Desenhos Diários (2015), Resende elabora uma escrita sem palavras (ágrafa), em que manchas e aguadas registram o fluxo da experiência cotidiana. As obras abordam temas como destruição ambiental e contradições sociais, compondo um alfabeto afetivo e político.

Em Tanto museus dentro da gente, cada trabalho tem voz própria, ao mesmo tempo que cantam em uníssono sobre a trajetória íntima de Marco Tulio Resende com materiais e imagens muito conectados com seu universo subjetivo, interrogando o presente e reverenciando a ancestralidade. Sua arte transforma o banal em poético, o cotidiano em mitologia, e a matéria, em linguagem.


 


 

SOBRE O ARTISTA

Nascido em Belo Horizonte em 1950, Marco Tulio Resende formou-se pela Escola Guignard/UEMG e é mestre pela School of the Art Institute of Chicago, como bolsista da Fulbright Commission. Professor por quatro décadas na Escola Guignard, também lecionou como professor visitante em instituições no Brasil e no exterior. Desde os anos 1970, participou de mostras, bienais, residências e exposições que consolidaram seu lugar na cena artística contemporânea brasileira.