Rastro e Pulsão apresenta pinturas que nascem do encontro de forças que movem o fazer — amor, desejo, luto e vazios — e os vestígios que permanecem depois que a experiência atravessa o corpo. “Pulsão” é o princípio, a necessidade sem nome que impele o gesto; “rastro” é a inscrição dessa energia no mundo, quando a tinta fixa, como sismógrafo, intensidades que oscilam entre o dizível e o indizível. Ao converter vivências em imagens instáveis, situadas no limite entre abstração e figuração, a artista transforma a tela em campo de reflexão sobre impermanência e inconsciente.
A exposição se ancora no período recente em que Julia passou na residência artística em Lisboa (Luz_Air, 2025), quando cor, luz e grafismos de azulejos históricos, somados a relações pessoais e aprendizados daquele período, reorientaram a paleta, o ritmo e a lógica compositiva de sua pesquisa. O retorno trouxe memórias que, aos poucos, deixaram de ser saturadas para rarear em superfícies porosas, onde a vibração se dá por interrupções, repetições e áreas de respiro.
Entre as obras, “Dancing Ghosts” parte da lembrança de amantes que dançam sem música, conduzidos por um compasso intuitivo; a série “Ecos” tensiona simetrias e cortes como quem testa o que sobrevive da experiência quando a memória se esvazia; e “Protagonistas” e “Coexist” condensam a amplitude do gesto em pinturas de grande escala. Em todas, a artista trabalha a partir do chão, em escala diretamente relacionada ao corpo, permitindo que o pincel opere como extensão do corpo: linhas cegas, ambidestras e sismográficas que registram a passagem do que pulsa por dentro.
Se tem rastro, é porque algo pulsou. Entre delicadeza e vigor, erotismo e agonia, suspensão e dinamismo, as pinturas devolvem ao espectador superfícies-espelho, capazes de fazer emergir imagens e afetos latentes, não como ilustração do vivido, mas como transfiguração contínua da experiência no presente da pintura.
Sobre a artista
Julia Pereira (São Paulo, 1991) investiga ciclos de saturação e esvaziamento da matéria e da memória, atravessando temas como corpo, relações afetivas e a natureza do tempo. Suas pinturas, enraizadas em lembranças pessoais, emergem de experiências ligadas a amor, desejo e luto, tornando-se imagens instáveis no limiar entre abstração e figuração. Com o gesto entendido como sismógrafo — registro e transmutação de intensidades —, a artista converte a tela em espaço de reflexão sobre impermanência, sexualidade e inconsciente.
Formação: Pós-Graduação em História da Arte – Teoria e Crítica (Centro Universitário Belas Artes, 2020) e Bacharelado em Artes Visuais: Pintura, Gravura e Escultura (Belas Artes, 2018), onde foi premiada como Melhor Aluna com bolsa integral. Cursos e acompanhamentos incluem: Neurociência e Arte (Belas Artes, 2021), Arte & Natureza (Magnólia Costa, Instituto Adelina, 2023), Arte & Psicanálise (Bianca Dias, Instituto Adelina, 2020), acompanhamento de pintura com Rodrigo Bivar (2018) e curso de pintura com Paulo Pasta no Instituto Tomie Ohtake (2016–17). Realizou residência artística de dois meses em Lisboa (Luz_Air, 2025).
Exposições individuais: New Paintings (LUZ_AIR Artist In Residence, Lisboa, Portugal, 2025); New Paintings (organizada por Simon Watson, São Paulo, 2025); O dia depois da festa (curadoria Theo Monteiro, ArteFASAM Galeria, São Paulo, 2022); O ar que eu não seguro (Ateliê Alê, São Paulo, 2022).
Coletivas selecionadas: Nem Tudo Que Reluz (curadoria Ana Avelar, Solar Fábio Prado, São Paulo, 2025); No tempo das sutilezas (curadoria Giulia França, ArteFASAM Galeria, 2025); Fulminantes (curadoria Ana Avelar, ArteFASAM); Para tocar no real (curadoria Omar Porto, Jardim da Mi, SP); Plástico-bolha (Casanova Arte, SP); Estruturas do Vazio (curadoria Omar Porto, SP); 21º Território da Arte de Araraquara (Teatro Municipal, 2024); Acervo Rotativo (Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, 2024); Sobre planetas, idílios e miudezas (curadoria Mario Gioia, AM Galeria, SP, 2024); E se ouvíssemos a casa? (curadoria Omar Porto, 2023); Passagem (ArteFASAM, 2023); Oráculo (curadoria Aurora Martinez, Galpão 654, 2022); Abstração em Fricção (curadoria Mario Gioia, Galeria de Arte André, 2022); Acervo Rotativo (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2021); 16º Salão de Artes de Guarulhos (2020); 26º Salão de Artes de Praia Grande (2019); 30ª Mostra de Arte da Juventude (Sesc Ribeirão Preto, 2019); Tardes de Terça (Centro Histórico e Cultural Mackenzie, 2019).