André Feliciano São Paulo, Brasil, 1984

Pessoa cultivada é aquela que se interessa por arte. E a arte? Pode ser cultivada? É certo que a arte aparece frequentemente nos terrenos baldios, como erva-daninha, vai crescendo nas frestas, entre os outros campos do conhecimento. Mas a semente precisa ser espalhada, colocada para voar, até germinar em terreno novo, para que todos percebam. Não basta só o especialista, jardineiro-de-arte, saber que em um terreno há sementes dormindo: é preciso ver os brotos. Quando eles surgirem, estaremos no Florescimento, vislumbra André Feliciano. "Da mesma forma que uma plantação de tomates é cultivada, a natureza da arte está sendo cultivada. Se na plantação de tomate todo o processo da preparação do terreno à frutificação demora 3 meses, na arte, pode demorar uns 3 séculos. Hoje, a semente da natureza da arte já foi plantada, mas ainda não brotou". Não se sabe qual será o fruto, nem quando virá.

 

Quando chegar o Florescimento, que na teoria de André Feliciano é uma espécie de enxerto entre Primavera e Renascimento, uma reconexão com a natureza, uma mistura do tempo da natureza e do tempo da história da arte, a arte não será alguma coisa inteligível só para os cultivados e cultivadores: será algo vivo e fará parte da vida de todos. O termo mal ajambrado "arte contemporânea" dará lugar então a um nome mais específico, e "arte florescentista" é uma sugestão.


André Feliciano trabalha como jardineiro-de-arte e cultiva coletivamente o Florescimento da arte. Mas também trabalha como artista e cria um imaginário próprio. Cria flores em forma de câmeras, disseminadas pela própria fotografia. Essa flor-câmera, como toda obra de arte, não é simplesmente olhada, mas também nos olha e nos registra. Nos reconectamos com a natureza através dela. Nas palavras do artista, "geralmente a fotografia está relacionada a morte (Roland Barthes), pois é uma imagem que define um momento que não vai mais voltar, é uma imagem que mostra um momento que 'morreu'. Assim, cultivo uma vida para fotografia, criando relações de outra ordem com a fotografia... como a ideia de que a flor pode nos fotografar sem necessariamente gerar uma imagem, mas sim um relação fotográfica mais viva e poética."

 

Como artista, Feliciano cria no campo da fotografia e sua filosofia. Também convida vaga-lumes para revelarem imagens, faz esculturas e outros modos para celebrar a vida fotográfica. Como jardineiro-de-arte, por sua vez, cultiva a transição entre a arte contemporânea e o que vem depois. Cultiva flores coletivas do amanha. Cultiva o Florescimento da arte! Viva!