Mês da Consciência Negra: perspectivas pelas lentes das artes visuais

Conheça quatro obras de artistas contemporâneos que oferecem diferentes perspectivas sobre a questão racial
Novembro 17, 2023
O nascimento de Eva, 2018, Harmonia Rosales
O nascimento de Eva, 2018, Harmonia Rosales


Com a aproximação do Dia da Consciência Negra, destacamos quatro notáveis trabalhos de
artistas contemporâneos que oferecem diferentes perspectivas sobre a questão racial, que você precisa conhecer.

Conteúdo do artigo: 


Mimese, 2005, Peter de Brito

 

A obra de Peter de Brito adota uma linguagem visual direta e literal ao capturar, por meio de uma fotografia impactante, as mãos de uma pessoa com vitiligo que se lavam com sabão branco, sugerindo que o produto de limpeza poderia clarear ou purificar o tom de pele de uma pessoa. Essa representação é uma metáfora crítica e irônica sobre o processo histórico de branqueamento da população negra no Brasil, no qual a ideia de pureza era associada à ascendência europeia. 


Refletindo minha graça, 2019, Calida Garcia Rawles

 

As pinturas hiper-realistas de Garcia Rawles que, à primeira vista, poderiam ser facilmente confundidas com fotografias, são conhecidas por retratarem corpos negros flutuando ou submersos em paisagens aquáticas. Estas figuras, com semblantes serenos, se afastam das representações estereotipadas de associação do corpo negro à contextos de sofrimento. Para Rawles, a água significa cura física e espiritual, bem como trauma histórico e exclusão racial. Ela usa essa dualidade como um meio de imaginar um novo espaço para a cura negra e de reimaginar seus temas além dos tropos racializados.


O jogo!, 2022, de Augusto Leal

 

A interativa instalação de Augusto Leal convida o público a participar, lançando a bola entre as 24 traves de gol, cada uma representando diferentes tons de pele.A disposição estratégica das traves em círculo, ao redor dos jogadores, introduz um desafio adicional, com as traves maiores e mais claras concentradas no centro, enquanto as menores e de tons mais retintos estão mais distantes, acrescentando uma complexidade ao jogo ao tentar marcar pontos nas traves mais escuras. Nessa obra, o futebol transcende a simples atividade esportiva, tornando-se um poderoso símbolo que aponta para o mito da meritocracia, historicamente utilizado como justificativa para a violência contra corpos negros no país.


Nascimento de Oxum, 2017, Harmonia Rosales

 

A pintura em destaque acima, pertence à série "Black Imaginary to Counter Hegemony (B.I.T.C.H.)" [em tradução livre, “Imaginário Negro para Contra-Hegemonia”], na qual a artista norte-americana, com raízes afro-cubanas, recria pinturas icônicas do Renascimento, substituindo as figuras protagonistas por mulheres negras. A proposta sugere que, ao representar uma divindade símbolo da fertilidade, como a Vênus, é apropriado que seja retratada como uma mulher negra, símbolo da origem de toda a humanidade. 

 

Vale dizer também, que a falta de diversidade na arte clássica – tanto nas obras quanto nos bastidores – é, há tempos, alvo de revisão crítica. Nesse sentido, a obra de Rosales nos instiga a questionar quantas histórias da arte existem e quantas narrativas são contadas.