Nos Bastidores da Arte - Fernando Velázquez

Conheça um pouco mais da trajetória e história
Agosto 31, 2021
Artista Galeria Zipper - Fernando Velázquez

Lembra daquela época quando a ideia de um humano e um robô trabalhando juntos para fazer arte era completamente infundada? Tema de star wars? Quando tudo que é etéreo se alinhava somente ao que é efêmero? E a ideia de um ciborgue artista nem cruzava sua cabeça?

 

Pois é, se você ainda vive assim, você tá perdendo um bocado…

 

O que você vai ver nesse artigo:

  • Rituais da Complexidade
  • Fernando Velázquez, retrospectiva
  • Interatividade na Zipper
  • Novos Caminhos

 

 

Rituais da Complexidade

Aqui na Zipper, propomos explorar justamente esses questionamentos, e convidamos Fernando Velázquez a encabeçar sua quarta exposição de arte conosco. Titulada “Rituais da complexidade” (28.08-25.09), a exposição busca redefinir estátuas clássicas gregas e africanas sob o guia da inteligência artificial e um manuseio decolonial, que é, acima de tudo, interativo, proporcionando ao público experiências que transbordem além do momento. 

 

Fernando Velázquez, retrospectiva

Para o Velázquez, a interativa não é novidade, muito menos a exploração de algoritmos e inteligência artificial, misturando o humano e o robótico em arte contemporânea digna de um ciborgue.

 

Na série “Mindscapes” (2012, sua primeira exposição individual na Zipper), Velázquez trabalhou com imagens algorítmicas em metacrilato, criando cores, temas e linhas quase familiares, onde o conceito de saudade serviu como referência em meio a uma exploração da neurociência e da memória como espaço de constante transformação: o público, mapeado por um sensor infravermelho, mudava o andar da exibição—imagens e sons se adaptavam a cada visitante, permitindo o engajamento ativo na concepção da obra, experiências novas em cada visita.

 

Obra Fernando Velázquez - Mindscapes 

 

Na exposição “Iceberg” (2018), ele buscou rever imagens que carregamos sem questionar. Já um tanto nebulosos no inconsciente cultural, fato que se deve ao antigo clichê, o iceberg é invariavelmente misterioso, e quando o artista invoca as formações, por meio de algoritmos ele provoca a audiência a buscar uma crítica das imagens tão aceitas e pouco pensadas do nosso dia-a-dia. Lasers acoplados a totens de madeira desenhavam a galeria com paralelos e meridianos, transformando o espaço físico em espaço geográfico, enquanto os totens—construídos conforme a vegetação do mangue—captavam o movimento do público na sala, ajustando o laser em relação à audiência. Uma animação contendo documentos, alfabetos, fórmulas e fotografias era projetada no chão da galeria, levando os visitantes a contrastar o conhecimento humano no qual pisavam com o da inteligência artificial que os rodeava.

 

 Obra Fernando Velázquez - Rituais da Complexidade

 

Em “Rituais da complexidade”, Velázquez joga um pouco na mistura entre as outras exposições, ao treinar seu algoritmo a reconhecer estátuas gregas e africanas para depois criar novas estátuas, que, embora modernas, sigam de alguma maneira essencial as peças clássicas. Mas claro que ele não podia parar por aí. Velázquez dá um passo além, convoca seu algoritmo então a ler sua própria releitura, e a bordar uma mistura nova entre as duas culturas remodeladas. O resultado é um desenho virtual, tão familiar quanto estranho, que lembra o passado, mas remete mais a um futuro já muito presente em nossas vidas. 

 

Obra Fernando Velázquez - Rituais da Complexidade 2

 

E aí fica a dúvida, quem é o verdadeiro autor da obra de arte? O artista, o algoritmo, ou o ciborgue que se deu na fusão dos dois? Talvez a resposta fique clara quando você visitar a exposição. 

 

Interatividade na Zipper

Agora, você certamente está se perguntando, mas e a tal da interação prometida nessa nova exposição? Aí guardamos outro segredo. Na Zipper, você será convidado a interagir com a obra, que, seguindo as bases do Oráculo de Ifá, evoca mensagens pessoais a cada visitante. 

“Esta tecnologia milenar tem base 8 bits, curiosamente, a mesma base da computação contemporânea. Em um momento de crise civilizatória como o que atravessamos se faz necessário recorrer ao auxílio dos saberes ancestrais para buscar alternativas para a sobrevivência da espécie”, diz Velázquez. 

Por meio do Telegram, você conversa com o algoritmo, o que é tanto uma proposta absurda, tendo em vista as origens clássicas da exposição, quanto incrivelmente natural, pensando no Oráculo de Ifá como uma espécie de inteligência artificial espiritual, com a qual conversamos há séculos. 

 

Novos Caminhos

Velázquez, o ciborgue, traz à tona um constante jogo entre passado presente e futuro.

Seja em um quadro “Mindscape”, em seu “Iceberg”, ou nas esculturas de “Rituais da complexidade”, ele brinca com o familiar, o clássico, o ortodoxo, que, através da inteligência artificial, se corrompe, se transforma no novo, no decolonial, no (novo) original. Seu interesse em memória, recriação e saudade, captam da forma mais profunda o projeto decolonial, que não busca simplesmente rejeitar um passado conflituoso e mórbido, mas sim revê-lo sob novos olhos, e tirar dele aquelas pequenas coisas essenciais, que servem na sua forma mais profunda para repensar o presente, quiçá traçar novos caminhos futuros. 

 

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