Obras de arte únicas, múltiplas e seriadas

Será que estou vendo a única versão dessa obra?
Janeiro 10, 2022
Galeria True Rouge, Paulo Orsini, 2002.
Galeria True Rouge, Paulo Orsini, 2002.

 

Quando nos deparamos com uma obra de arte, observamos, além do estético, as técnicas que compõem a obra. Foi pintada à óleo? Esculpida em mármore? Talvez animada no computador? Mas às vezes nos passa batido o quesito singularidade: Será que estou vendo a única versão dessa obra? 

 

Técnicas para copiar existem desde que as primeiras obras foram criadas, e aí a questão passa a girar em torno da autoria da cópia. Certos artistas criam suas obras de tal maneira que a cópia faz parte da criação da original. Outros preferem criar simplesmente as versões singulares de suas obras. Essas são algumas das escolhas que invariavelmente afetam não só a nossa percepção da obra, mas também seu valor no mercado. 

 

Então para entender melhor esse tema, aqui vão as diferenças entre obras de arte únicas, múltiplas e seriadas. 

 

O que você vai ver nesse artigo:

  • Obra Única

  • Obra Múltipla

  • Obra Seriada

 

Obra única

 

É aquela que não tem cópias, 1 de 1. Foi feita pelo artista para ser o que é, e como é. A obra única é feita para o meio em que habita, no meio em que habita. É singular.

 

São as pinturas mais reconhecidas, e as esculturas feitas à mão. A instalação True Rouge do Tunga em Inhotim é um exemplo de uma obra única. A maneira como o artista idealiza a obra é tão importante quanto à forma da obra, ao meio do qual ela é estruturada, e qualquer tentativa de reprodução, incorre, portanto, em diferenças que imediatamente desmancham a originalidade da cópia.

 

             

Tunga, True Rouge, 1997, [detalhe].

 

Hoje em dia, as NFTs se enquadram no quesito obra única. Embora sua viralização pela internet desmistifique sua exclusividade, a originalidade da obra permanece a mesma: Quem é dona da obra, tem a única original. 

 

Obra múltipla

 

É aquela, que por causa da técnica utilizada, permite que se façam cópias dela. São as fotografias, por exemplo. E aí no caso, não há propriamente uma original, há o negativo, ou um arquivo digital, mas a “impressão” pode ser feita mais de uma vez, e, mantendo-se as condições originais, as cópias serão tão originais quanto a primeira.

 

Se enquadram também nesta caixa as esculturas que são “esculpidas” por máquinas. Ou seja, esculturas que podem ser reproduzidas sem risco de diferenciação pelas mãos do artista. Me vem à mente as cadeiras do arquiteto e designer Marcel Breuer, por exemplo. Expostas no MoMA em Nova Iorque, elas também podem ser compradas em lojas de mobília, porque o conceito original é continuamente reprodutível sem diferenças. 

 

Com a popularização da impressão 3D, mais e mais artistas são capazes de fazer suas esculturas assim. Ano passado na Zipper, Fernando Velázquez exibiu quatro esculturas impressas em sua instalação Rituais da complexidade

 

 

Exposição Rituais da complexidade do Fernando Velázquez na Zipper Galeria.

 

 

Obra seriada

 

As obras seriadas tem certas semelhanças às múltiplas, porém guardam em sua essência, a alusão à original. No caso das gravuras, por exemplo, procura-se sempre a marcação na parte de baixo da obra—13/45, 2/10, …—que tanto singulariza a cópia, como também a vincula à primeira. E ao delimitar o número total de cópias, o artista fecha o ciclo de reprodução ali. 

 

De Alfredo Volpi a Picasso, vários artistas se utilizam das técnicas de gravura, litografia, xilografia, etc. São técnicas que andam lado-a-lado às revoluções tecnológicas. No caso da litografia, onde o artista desenha sobre uma pedra ou metal e imprime seu desenho no papel, a popularização da técnica se deu aos avanços da imprensa moderna no século XIX. 

 

 Obra ´´Jacqueline au bandeau de face (Grand tête de femme)´´ do Picasso.

 

A xilografia, ou xilogravura, por outro lado, é muito mais antiga. Tem sua origem na China na antiguidade, e só foi transmitida à Europa no século XIII. De forma similar à litografia, a xilogravura funciona como uma forma de carimbo, onde o artista entalha na madeira seu desenho e depois o imprime no papel ou tecido de sua escolha. No Brasil, a xilografia tem importantes expoentes, principalmente no Nordeste. De José Costa Leite a Walderedo Gonçalves, até Tarsila do Amaral já trabalhou com a técnica para criar obras seriadas. 



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