Quatro obras históricas no acervo da Zipper

Conheça obras de Nelson Leirner, Abraham Palatnik, Siron Franco e Megumi Yuasa
May 2, 2025
Quatro obras históricas no acervo da Zipper

 

O mercado secundário é um termômetro da valorização e da permanência de artistas no cenário das artes visuais. Nesse sentido, a Zipper Galeria possui em seu acervo obras de artistas fundamentais da história, como Nelson Leirner e Abraham Palatnik, que marcaram as transformações da arte moderna e contemporânea no Brasil, ou também Siron Franco e Megumi Yuasa, cujas produções anteciparam debates cada vez mais urgentes na contemporaneidade, sem perder a sensibilidade poética sobre matéria, forma e processo. 


Confira quatro obras destes artistas que constituem o acervo de da galeria.

 

Conteúdo do artigo:

 

 

Nelson Leirner, “Você faz parte”, 1999+1

 

Nelson Leirner (1932–2020) foi um dos grandes provocadores da arte brasileira. Alinhado à Nova Figuração e flertando com o dadaísmo, ele fundou o grupo Rex com outros grandes nomes da arte brasileira como Carlos Fajardo, José Resende e Wesley Duke Lee, com os quais nunca se esquivou da crítica institucional. O uso de objetos destituídos de suas funções originais (ready-mades), a ironia, a apropriação e a repetição serial são marcas de sua linguagem, como é visto em “Você faz parte” (1999+1). 

Rostos idênticos de macacos humanizados, maquiados de forma caricatural, se intercalam com espelhos de silhuetas destes mesmos rostos. Os espelhos, por sua vez, nos obrigam a nos incluir na cena: você faz parte, afirma o título. O trabalho é exemplar da crítica do artista à sociedade contemporânea, especialmente em relação ao comportamento de massas, à cultura de consumo, à padronização das subjetividades e ao próprio sistema da arte, escancarando o teatro das identidades com um humor tipicamente ácido. 

 

Abraham Palatnik, “W-891”, 2016

 

Abraham Palatnik (1928-2020), pioneiro da arte cinética no Brasil, explorou a interação entre cor, forma e movimento visual, tornando-se referênciatendo sido amplamente conhecido por suas pinturas que dispensavam tintas e pincéis, feitas com luzes e motores mecânicos. No entanto, na série “W”, o artista concebe o efeito de vibração óptica com um suporte completamente estático. 

 

Utilizando acrílica sobre madeira, Palatnik criava duas composições abstratas feitas manualmente sobre placas de madeira. Ao terminar essas superfícies, ele as cortava a laser em filetes regulares. Depois, intercalava as ripas sucessivamente, inserindo pequenos deslocamentos verticais entre elas, dando origem a uma terceira imagem com efeitos de ondulação, ritmo e movimento. Decompondo e recombinando a matéria pictórica, ele propôs um deslocamento do gesto artístico para a percepção ativa do espectador.

 

Siron Franco, “Espírito da Floresta”, 1989

 

Em “Espírito da Floresta” (1989), o artista goiano Siron Franco (1947) traça um rosto em uma densidade plástica, que ocupa toda a superfície da tela, dividida em duas principais zonas cromáticas complementares. A parte superior, dominada pelo verde das vegetações, apresenta uma calota craniana de contorno irregular e finas inscrições de silhuetas de animais. Diferente dessa organicidade livre, a parte inferior, de tonalidade rosada – que remete à carne, à matéria humana – tem formas lisas, planas e bem delimitadas. A duplicidade dos olhos incandescentes (dois pares sobrepostos) infunde uma dimensão mítica à figura: um ser, como diz o título, espiritual da floresta que tudo observa e vigia.

 

O uso de cores saturadas e contrastantes são marcas da pintura de Siron, que nos anos 1980 aprofundava seu interesse pelas raízes culturais brasileiras e pelos dramas sociais ligados à destruição do meio ambiente. Vale dizer, que a obra foi concebida após o desastre de contaminação por radioatividade com césio-137, que aconteceu em Goiânia, em 1987, e afetou diretamente a produção do artista.

 

Megumi Yuasa, Sem título, 1980

 

Natural de São Paulo e descendente de japoneses, Megumi Yuasa (1938) construiu sua pesquisa poética conjugando memória afetiva e experimentação técnica. Atuando como professor de cerâmica desde 1979, o artista tem uma concepção muito particular sobre esmaltação, frequentemente incorporando materiais diversos às superfícies de suas peças – como tintas acrílicas – ou fazendo aplicação em sucessivas camadas de esmalte gotejado, que acentuam as texturas orgânicas e fluem na contramão das convenções da cerâmica tradicional japonesa.

 

A árvore, tema da peça “Sem título” (1980), é uma figura recorrente no imaginário de Yuasa, que remete à figueira do quintal da casa de sua infância. As formas arbóreas apontam, simbolicamente, para ideias de ancestralidade e enraizamento, enquanto a pequena casa sobre a copa para abrigo e pertencimento. A arquitetura humana, amparada pela árvore, é isolada e suspensa em meio à paisagem. Esses elementos em conjunto são um possível diálogo com as experiências migratórias e de hibridismo cultural e sobre o sentido de deslocamento que atravessam a história pessoal do artista e a construção de sua linguagem.