Zip'Up: Horizonte suspenso: Helô Mello

5 Setembro - 5 Outubro 2019

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Películas vencidas, câmeras erráticas, justaposições feitas às cegas e a incorporação de ruídos gerados por um processo criativo crivado de acasos, formam o léxico da pesquisa que a artista Helô Mello tem desenvolvido nos últimos anos e que resultou na mostra Horizonte Suspenso, que a Zipper Galeria abriga agora no projeto Zip'Up.

 

Tais estratégias, segundo a artista, visam “demolir símbolos” para gerar uma “rememoração ruidosa que flutua no presente de um passado intangível”. Logo, estamos diante de obras complexas que renunciam ao tempo-espaço que a imagem fotográfica em geral faz emergir de um passado demarcável, para entrarmos numa relação temporal de total instabilidade.

 

Marcados por incertezas e incidentes, esses “horizontes suspensos” mimetizam, a golpes de luz e com seus azuis febris, os movimentos entrecruzados da memória, a percepção fragmentada do tempo, os desejos do porvir e a soma dos dias amalgamados em paisagens que invocam o extemporâneo. Em suma, a quintessência da vida, que Helô Mello persegue obstinadamente nas suas habilidades, que são tantas, e, sobretudo, na forma como sabe celebrar o encontro, a amizade, a maternidade, o amor.

 

Toda essa experiência em viver intensa e afetivamente a soma das horas criou um espaço lacunar em sua vida, que naturalmente transbordou para sua produção artística. É essa instância particular da vida da pessoa e da artista que se infiltra entre o primeiro e outros tantos planos que se desacomodam da superfície de suas obras inquietantes.

 

Desses horizontes espessos irrompem fragmentos de sonhos recorrentes, castelos fortuitos que almejamos construir, precipícios que desafiaram nossas convicções, praias que nossa infância inventariou, montanhas que escalamos ou nem sabemos se as alcançamos, temporais que nos fizeram aprender a não temer o medo.

 

Imagens voláteis que deambulam nossa existência surgem nesse torvelinho de horizontes suspensos, após serem capturados pelo olho-espírito da artista que transcende o jogo fotográfico para sorver cada minuto vivido e, assim, fundir vida e arte a partir de sua percepção humanística, nostálgica, fabular.

 

Eder Chiodetto