MET Gala: Por que o “Oscar da moda” acontece em um museu?

Entenda os bastidores por trás da criação de um dos maiores eventos da cultura pop em um museu de Nova York
Maio 8, 2025
Vista da Grande Escadaria da Quinta Avenida Met, 2016. © Floto+Warner para o Metropolitan Museum of Art.
Vista da Grande Escadaria da Quinta Avenida Met, 2016. © Floto+Warner para o Metropolitan Museum of Art.

No último dia 05 de maio, diversas celebridades chamaram atenção para seus looks ao desfilar pelo icônico tapete vermelho das escadarias do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. Sob o tema “Superfine: Tailoring Black Style” (Superfino: o estilo negro na alfaiataria), a edição de 2025 do Met Gala foi, mais uma vez, um dos eventos mais aguardados e comentados do calendário cultural anual. Mas você já se perguntou sobre o que consiste este evento? E por que ele acontece dentro de um museu? E mais, sabia que uma mega exposição correspondente, no próprio MET, será inaugurada no próximo sábado, dia 10 de maio e ficará em cartaz até 26 de outubro de 2025?

 

Entenda a seguir todos os detalhes desta festa que é um dos maiores entrosamentos entre arte e moda do mundo.

 

Conteúdo do artigo:

 

 

O que de fato é o MET Gala e por que ele acontece em um museu?


"Superfine: Tailoring Black Style", no Metropolitan Museum of Art, 2025. Foto: Slaven Vlasic/Getty Images


O Met Gala é um evento, que acontece tradicionalmente na primeira segunda-feira de maio para arrecadar fundos para o Costume Institute, o departamento de moda do Metropolitan Museum of Art, que abriga uma das coleções de vestuário mais importantes do mundo. A festa marca a abertura da principal exposição anual deste setor do museu, mas, na prática, funciona como um grande espetáculo de moda e cultura pop, especialmente por conta do desfile dos convidados pelo icônico tapete vermelho, onde cada um exibe suas interpretações do tema da noite. Lá dentro, e longe das câmeras, acontece um jantar privado seguido de uma visita guiada à exposição e apresentações musicais. 

Ou seja, apesar dos holofotes estarem voltados para as celebridades convidadas – e o museu e sua programação, por vezes, pareçam apenas o pano de fundo do espetáculo –, o evento foi criado por e para o MET. 

Como um evento museológico se tornou um “Oscar da moda”?

O Met Gala foi criado em 1948 pela publicitária Eleanor Lambert, uma das figuras mais influentes da moda estadunidense do século XX. Mas, na época, o jantar beneficente não tinha o apelo midiático de hoje, era apenas frequentado pela alta-sociedade nova-iorquina e as mostras eram mais acadêmicas. Foi só a partir de 1972, com a chegada da editora de moda Diana Vreeland como consultora especial do Costume Institute, que o Met Gala começou a se transformar em um evento mais teatral e fashionista.


MET Gala em 1972, quando o evento destacou o lado menos formal da moda sob o tema “Untailored Garments”. 


Ao longo das décadas, o evento foi ganhando cada vez mais força. Mas foi sob a liderança de Anna Wintour, que assumiu a organização nos anos 1990, que o Met Gala teve uma virada definitiva para o formato atual. Wintour deu ao Gala o glamour de uma
première de Hollywood. Ela convidou celebridades, designers e artistas para “vestirem” o tema da exposição. Com ela, o evento definitivamente virou o “Oscar da moda” e o Costume Institute se tornou uma vitrine para pensar vestuário como linguagem artística, histórica e política.


Anna Wintour no MET Gala 2025 – Foto: Getty Images


Arte e moda de mãos dadas para uma estratégia de filantropia museológica

Considerando que a sustentabilidade financeira dos museus é um desafio global e histórico, e que nos Estados Unidos boa parte dos recursos vêm da iniciativa privada, o MET Gala nasceu como uma solução pragmática, sendo um evento que arrecada milhões em uma única noite e canaliza recursos diretamente para o Costume Institute, que não recebe verba do orçamento central do museu. Ao colocar figuras mundiais influentes vestindo peças-conceito dentro de um museu, o espaço atrai o interesse de marcas de luxo, que veem valor em associar seus nomes à arte

No fim, a estratégia é uma via de mão dupla de valorização para ambas as áreas: quando a moda entra no museu, ela é legitimada como arte, ao passo que o museu se transforma em vitrine da indústria da moda. Nesse sentido, é importante perceber que seria muito improvável que a instituição conseguisse realizar uma ação filantrópica da mesma escala e impacto do MET Gala sem o apelo específico da moda, afinal ela é o campo artístico mais diretamente conectado ao universo das celebridades e está entre os setores mais rentáveis do mercado cultural. É por meio da moda que o museu se atrela à figuras como Rihanna, Zendaya ou A$AP Rocky, sem as quais dificilmente conseguiria mobilizar tanto interesse e cobertura da mídia global. 


Janaina Mello Landini e uma homenagem Iris Van Herpen


Desde os vestidos pintados por artistas modernistas para as elites do século XX, até o trabalho
têxtil sendo redefinido na arte contemporânea, ou ainda as colaborações contemporâneas entre estilistas e museus, os limites entre arte e moda sempre foram porosos. E se você se interessa em saber mais sobre esses entrosamentos, acompanhe a participação da artista Janaina Mello Landini na exposição “Sculpting the Senses”, que homenageia a carreira da estilista holandesa Iris Van Herpen. A mostra, que já passou pelo Musée des Arts Décoratifs, em Paris, chega a Cingapura, no ArtScience Museum, apresentando a obra “Ciclotrama 310 (superstrato)”, de Landini, feita especialmente para a ocasião.


Serviço:

Iris Van Herpen – Sculpting the Senses
Local: Marina Bay Sands | ArtScience Museum – Singapura
Período expositivo: até 10 de agosto 2025