
A primavera chegou. Depois de um longo inverno, o hemisfério sul finalmente vê o retorno das cores, aromas e texturas. Inspirados pela estação das flores, convidamos você a percorrer três obras que, de maneiras diferentes, capturam a poesia e a energia da primavera, seja na delicadeza da flora, na intensidade das cores ou na vitalidade que transborda de cada cena.
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André Feliciano, Mini jardim fotográfico com câmera, 2021
Autodenominado “artista jardineiro”, André Feliciano desenvolve, desde os anos 2000, uma pesquisa visual que dialoga com a tradição da fotografia deslocada para o campo da fabulação. Suas obras possuem uma ludicidade inerente, refletida sobretudo nas “flores-câmeras” que parecem observar o espectador, devolvendo o olhar com suas lentes.
Dispondo-se de materiais sintéticos para construir ambientes que remetem ao universo orgânico, o artista trata a imagem fotográfica como algo que precisa ser semeado, nutrido e cuidado para florescer. Ao contrário da ideia de fotografia como registro instantâneo, ele a coloca no tempo da natureza, associada a ciclos de germinação, crescimento e florescimento.
Pedro Varela, Sem título, 2017
Até que ponto nossa percepção do natural já não é atravessada por filtros culturais e seus consequentes estereótipos? Pedro Varela cria paisagens oníricas e paradisíacas a fim de subverter a tradição do ornamento na arte latino-americana, frequentemente visto como exuberante, exótico ou excessivo no olhar global.
Sobre um fundo esfumado e atmosférico, brotam formas vegetais abstraídas em contornos psicodélicos e cores fluorescentes. A exuberância trabalhada em acrílica na tela nos instiga a olhar de perto cada detalhe. O jardim pictórico de Varela beira a vertigem: as formas se multiplicam e o quadro é incapaz de conter seu próprio crescimento.
Nina Pandolfo, Envolta no amor, 2025
“Envolta no amor” (2025) sintetiza muitos dos elementos recorrentes na produção de Nina Pandolfo: o universo lúdico da infância, a fusão entre figura feminina e natureza e a vitalidade exuberante do mundo natural. À artista interessa a infância como zona de pureza, a natureza como alegoria para abrigo e crescimento, e a figura feminina como mediadora entre mundos.
Por um lado, o cabelo em forma de copa de árvore, que abriga ninhos e pássaros, somado ao olhar brilhante e fulgás, desloca a figura protagonista para uma dimensão mística. Por outro, não há excesso dramático, a força da obra está justamente na objetividade com que a delicadeza se manifesta.