Conheça 4 obras de artistas que trabalham com distorções da imagem do corpo

Selecionamos obras de artistas contemporâneos que partem da distorção de imagens para pautar diferentes poéticas do corpo
Outubro 28, 2022
“Desbundo-Me” (2019) - Monica Piloni
“Desbundo-Me” (2019) - Monica Piloni

Muitas vezes falamos da imagem do corpo como algo superficial e inocente. Mas essa estética é fundamental na construção daquilo que compreendemos e investigamos como identidade, gênero, sexualidade, raça e etnia. As pessoas alteram suas silhuetas, cabelos e roupas para se alinharem ou se rebelarem contra as convenções sociais e para expressar o que acreditam. Confira como quatro artistas contemporâneos usam o aspecto da distorção para pautar temas profundos.


Conteúdo do artigo:


  • Jana Euler

  • Thatiana Cardoso

  • John Coplans 

  • Monica Piloni


Jana Euler

“Venice Void” (2022) - Jana Euler


Jana Euler é uma artista alemã, radicada em Bruxelas, cujas obras integram a exposição principal da 59ª Bienal de Veneza deste ano. Entre os trabalhos apresentados, há uma pintura que apesar de inédita é bastante típica no modo de tratamento da artista. “Venice Void” (2022) apresenta um rosto desconstruído e remontado de forma caleidoscópica. A imagem do corpo esticado confronta o espectador com os olhos azuis agigantados. A figura parece ter pintado seu próprio retrato como se a tela fosse um espelho em seu teto, destacando seu rosto e permitindo-lhe ver as costas no mesmo plano.

“Under this perspective, 1” (2015) - Jana Euler 

 

Thatiana Cardoso

Corpo Estranho (2021) - Thatiana Cardoso

 

A artista brasileira cresceu em um ambiente religioso bastante repressor, onde ouvia tantas vezes que o “corpo da mulher é biologicamente mais adequado para o serviço doméstico”, que levou isso ao pé-da-letra e passou a investigar as semelhanças entre objetos de cozinha e o corpo humano. Através do zoom da câmera, esses objetos perdem suas identidades e evocam um mistério, transitando entre a estética carnal e artificial. Suas obras são intrinsecamente pautadas na dubiedade, na traição das imagens como um reflexo das relações humanas e as violências invisíveis. 


Métodos para obter a confissão (2018) - Thatiana Cardoso

 

John Coplans 


Back Torso From Below (1985) - John Coplans 

 

Coplans foi um artista britânico que viveu entre 1920 e 2003 e começou a tirar fotos em preto e branco de seu corpo nu a partir dos sessenta anos. Ainda que sejam autorretratos, o artista nunca inclui seu rosto em suas imagens, representando um corpo desfigurado em vez de uma identidade particular. Em “Back Torso From Below”, a maneira como ele contorce seu corpo resulta em uma forma quase abstrata que enfatiza linhas e curvas. Ao fotografar seu corpo nos últimos anos de sua vida - desafiando as convenções da beleza juvenil - o artista enfrenta questões de envelhecimento e deterioração, assuntos geralmente ignorados e temidos na sociedade contemporânea.

 


“Self Portrait (Back and Hands)” (1984) - John Coplans 

 

Monica Piloni


“Haverias de querer minha alma? (Série No Meu Quarto)”  (2014) - Monica Piloni

 

Piloni é uma artista brasileira, representada pela galeria Zipper, que cria esculturas de corpos femininos com distorções que às vezes beiram o assustador. As mutações apresentam os membros e seios duplicados, cabeças faltantes, entre outras variações. Algumas dessas multiplicidades permitem que você seja observado pela própria obra enquanto circunda todos os seus lados. Assim, a artista escancara o lugar que a mulher socialmente foi posta como objeto de fetiche, ao mesmo tempo que posiciona o espectador como cúmplice quando confrontado por todas as faces. Esse jogo traiçoeiro é evidente, exemplo na obra “Selfie”, que a figura, enquanto exibe seu corpo petulantemente, te fotografa com os celulares das outras mãos.


Selfie (2022) - Monica Piloni

Aproveite para encarar essas deturpações de perto na última semana da individual “Humanas, demasiado humanas”, de Monica Piloni.

About the author

Giovana Nacca

Giovana Nacca é artista visual por formação universitária, redatora em portais de arte contemporânea e criadora de conteúdo no Instagram @gisplicando.